Page 330 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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um triz. Os relâmpagos faiscavam, e o ribombar dos trovões parecia
despedaçar o céu. Destro corria em disparada; Caspian, ainda que bom
cavaleiro, não tinha força para dominá-lo. A custo conseguia manter-se na
sela, certo de que sua vida estava presa por um fio naquela louca cavalgada.
Eis que, de súbito, quase sem ter tempo para sentir a dor, alguma coisa lhe
bateu na fronte e ele perdeu os sentidos.
Quando voltou a si, Caspian estava deitado perto de uma fogueira,
sentindo uma horrível dor de cabeça. Ouviu falar baixinho:
– Temos de resolver o que vamos fazer com ele, antes que acorde.
– Matá-lo! – disse outra voz. – Não podemos deixá-lo vivo: iria trair-
nos.
– Deveríamos ter feito isso na hora, ou então deixado ele sozinho –
atalhou uma terceira voz.
– Não podemos matá-lo agora; não depois de termos tratado seus
ferimentos. Seria o mesmo que assassinar um hóspede.
– Senhores – disse Caspian, numa voz que era quase um murmúrio –
, decidam o que quiserem a meu respeito, mas peço-lhes que tratem bem do
meu cavalo.
– Seu cavalo fugiu muito antes de o encontrarmos – disse uma voz
roufenha, que parecia vir da terra.
– Não se deixem iludir com palavrinhas doces – falou a segunda voz.
– Por mim, insisto em...
– Calma aí! – exclamou a terceira voz. – É claro que não vamos
matá-lo. Você devia ter vergonha, Nikabrik. O que acha você, Caça-trufas?
Que vamos fazer com ele?
– Vou dar-lhe de beber – disse a primeira voz, provavelmente a de
Caça-trufas. Uma sombra escura aproximou-se. Caspian sentiu que um
braço lhe amparava cuidadosamente as costas – se é que era mesmo um
braço. O rosto que se inclinou era também um tanto esquisito: pareceu-lhe
que estava coberto de pêlos e que tinha um enorme nariz, com umas
engraçadas manchas brancas dos lados. “Deve ser máscara”, pensou
Caspian, “ou então estou delirando.”
Uma taça de um líquido quente e adocicado tocou seus lábios, e ele
bebeu. Nesse instante, um dos outros atiçou o fogo, fazendo levantar uma
labareda. Caspian quase gritou de susto, ao ver o rosto que o fitava. Não era
um homem, mas um texugo! No entanto, o rosto deste era maior, mais
amistoso e mais inteligente do que o dos texugos aos quais estava
habituado. Fora ele que falara, sem dúvida. Viu também que estava deitado
numa gruta, sobre uma cama de urzes. Ao pé do fogo encontravam-se dois