Page 334 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 334

6


                                             O ESCONDERIJO DOS ANTIGOS

                                                                               NARNIANOS





                         Começara o tempo mais feliz da vida de Caspian. Numa bela manhã
                  de verão, em que a relva estava coberta de orvalho, ele partiu com o texugo
                  e os dois anões, através da floresta, rumo ao alto de um monte, descendo
                  depois  a  encosta  inundada  de  sol,  de  onde  se  avistavam  os  campos
                  verdejantes de Arquelândia.

                         – Vamos visitar primeiro os três Ursos Barrigudos – disse Trumpkin.

                         Avançando por uma clareira, chegaram a um velho carvalho oco e
                  revestido de musgo, em cujo tronco Caça-trufas deu três pancadinhas com
                  a pata, sem que obtivesse resposta. Bateu de novo e lá de dentro uma voz
                  rouca protestou: – Vá embora. Ainda não está na hora de acordar.

                         Mas,  quando  o  texugo  bateu  pela  terceira  vez,  ouviu-se  um  ruído
                  como  de  tremor  de  terra,  abriu-se  uma  porta  e  apareceram  três  enormes
                  ursos castanhos, muito barrigudos mesmo, a piscar os olhinhos. Depois que
                  terminaram  de  lhes  contar  tudo  o  que  passava  (o  que  demorou  muito
                  tempo, pois estavam caindo de sono), eles concordaram com Caça-trufas:
                  um filho de Adão devia ser o rei de Nárnia – e todos beijaram Caspian,
                  com uns beijos molhados e barulhentos. E o rei foi logo convidado para
                  comer  mel. Caspian não gostava muito de  mel, sem pão, àquela hora da
                  manhã, mas por delicadeza achou que deveria aceitar. Só depois de muito
                  tempo  deixou  de  sentir  as  mãos  meladas.  Continuaram  depois  a  andar  e
                  chegaram perto de umas faias muito altas. Aí, Caça-trufas gritou:
                         – Farfalhante!

                         Quase imediatamente, saltando de ramo em ramo, apareceu acima da
                  cabeça dos visitantes um magnífico esquilo vermelho. Era muito maior que
                  os esquilos mudos que Caspian encontrava às vezes no jardim do castelo;
                  na verdade, era quase do tamanho de um cachorro. Bastava olhar para ele
                  para se ver que falava. O problema era justamente fazê-lo calar, pois, como
                  todos os esquilos, era um grande falastrão. Deu as boas-vindas a Caspian e
                  ofereceu-lhe  uma  noz.  Caspian  agradeceu  e  aceitou.  Mas,  quando
                  Farfalhante se afastou para ir buscá-la, Caça-trufas disse-lhe baixinho:

                         –  Não  fique  olhando.  É  falta  de  educação  entre  os  esquilos  seguir
                  alguém  que  vai  à  despensa...  ou  olhar  como  se  quisesse  saber  onde  ele
                  guarda as coisas.
   329   330   331   332   333   334   335   336   337   338   339