Page 336 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 336

– Também acho que não – concordou Caça-trufas. – Não queremos
                  essa gente conosco.

                         Nikabrik  era  de  opinião  contrária,  mas  Trumpkin  e  o  texugo
                  conseguiram fazê-lo calar.

                         Caspian sentiu um calafrio ao saber que também as criaturas más das
                  histórias antigas tinham deixado descendência em Nárnia.

                         –  Perderíamos  a  amizade  de  Aslam,  se  nos  aliássemos  a  essa  ralé
                  horrorosa – disse Caça-trufas, quando saíram da caverna dos anões negros.
                         –  Aslam?  –  indagou  Trumpkin,  falando  alegremente  e  em  tom  de
                  ligeiro  desprezo.  –  Muito  mais  do  que  isso:  vocês  perderiam  a  minha
                  amizade!

                         – Você acredita em Aslam? – perguntou Caspian a Nikabrik.

                         – Acredito em qualquer um, ou em qualquer coisa que possa reduzir
                  a  pó  os bárbaros telmarinos ou  expulsá-los de  Nárnia.  Seja lá  quem  for,
                  Aslam ou a Feiticeira Branca. Está entendendo?

                         –  Cale-se!  –  ordenou  Caça-trufas.  –  Você  não  sabe  o  que  está
                  dizendo. Ela foi muito pior do que Miraz e toda a sua raça.

                         – Para os anões, não – insistiu Nikabrik.
                         A visita seguinte foi mais agradável. As montanhas deram passo a
                  um vale arborizado, atravessado por um rio caudaloso. As margens do rio
                  estavam  atapetadas  de  papoulas  e  rosas;  no  ar  pairava  o  zumbido  das
                  abelhas. Caça-trufas gritou:

                         – Ciclone!

                         Passado um instante, ouviu-se o ressoar de cascos, cada vez mais alto
                  e  mais  próximo,  até  que  o  vale  inteiro  tremeu.  Por  fim,  pisando  e
                  esmagando flores, apareceu o grande centauro Ciclone e seus três filhos, as
                  mais imponentes criaturas que Caspian vira em toda a vida. Os flancos do
                  centauro eram de um castanho escuro e brilhante; a barba, que lhe cobria o
                  peito,  era  vermelho-dourada.  Profeta  e  vidente,  o  centauro  não  precisou
                  perguntar ao que vinham.

                         – Viva o rei! – gritou. – Os meus filhos e eu estamos prontos para a
                  guerra. Quando se trava a batalha?
                         Até  aquele  momento,  nem  Caspian nem  os outros tinham  pensado
                  em guerra. Nutriam  a vaga idéia de uma ou outra incursão nas terras de
                  algum humano, ou talvez de um ataque a um grupo de caçadores, caso estes
                  se aventurassem a penetrar nas regiões selvagens do Sul. No mais, porém,

                  pensavam  apenas  em  viver  isolados  nos  bosques  e  cavernas,  tentando
                  reconstruir qualquer coisa parecida com a antiga Nárnia.
   331   332   333   334   335   336   337   338   339   340   341