Page 338 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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pássaros buscavam os ninhos. Depois de cearem o que tinham trazido,
Trumpkin acendeu o cachimbo (Nikabrik não fumava).
O texugo disse:
– Se pudéssemos despertar o espírito destas árvores e deste poço,
poderíamos hoje nos dar por satisfeitos.
– E por que não? – perguntou Caspian.
– Não temos poder sobre eles. Desde que os humanos invadiram o
país, derrubando as árvores e secando as fontes, as dríades e as náiades
mergulharam num sono profundo. Quem sabe se algum dia voltarão a
acordar? Essa é a nossa grande perda. Os telmarinos têm horror aos
bosques, e bastaria que as árvores avançassem para eles em fúria, para que
os nossos inimigos ficassem loucos de medo e fugissem de Nárnia a toda a
velocidade.
– Que imaginação têm os animais! – troçou Trumpkin, que não
acreditava nessas coisas. — E por que só as árvores e as fontes? Não seria
ainda mais engraçado se as próprias pedras começassem a atirar-se contra o
velho Miraz?
O texugo limitou-se a resmungar, e fez-se um silêncio tão longo que
Caspian estava prestes a adormecer, quando lhe pareceu ouvir uma música
suave, vinda do meio dos bosques. Achou que estava sonhando e voltou-se
para o outro lado. Mas, ao encostar o ouvido à terra, sentiu ou ouviu o rufar
longínquo de um tambor. Ergueu-se. O rufar do tambor tornou-se mais
fraco, mas a música voltou, mais nítida agora. Pareciam flautas. Viu que
Caça-trufas se sentara, olhando a floresta. O luar estava claro, e Caspian
percebeu que dormira mais do que imaginara. A música estava cada vez
mais nítida, uma melodia alegre e romântica, acompanhada pelo ruído de
muitos pés ligeiros. Passando do bosque para a campina inundada de luar,
surgiram por fim vultos bailando, aqueles com que Caspian sonhara a vida
toda. Pouco mais altos que os anões, eram muito mais esguios e graciosos.
Nas cabeças encaracoladas tinham pequenos chifres, e seu tronco nu
brilhava à luz do luar; as pernas e os pés eram de bode.
– Faunos! – exclamou Caspian, pondo-se de pé num salto.
Imediatamente todos o rodearam. Não tardou para que a situação fosse
explicada aos faunos e estes logo aceitassem Caspian. E, antes mesmo que
pudesse dar-se conta, Caspian se viu dançando. O mesmo aconteceu a
Trumpkin, que acompanhava os outros com movimentos pesados e
desajeitados. Caça-trufas ia correndo e pulando de qualquer jeito. Só
Nikabrik continuou no mesmo lugar, olhando em silêncio. Os faunos
rodopiavam à volta de Caspian ao som alegre das flautas de bambu.
Tinham uma expressão estranha, a um tempo alegre e triste. Eram dezenas