Page 342 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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vez. Como conseguiu chegar aqui?
– Um truquezinho muito simples – respondeu o doutor, ainda
ofegante da corrida. – Mas agora não há tempo para explicações. Temos de
fugir daqui. Alguém traiu o meu Real Senhor e Miraz está a caminho.
Amanhã, antes do meio-dia, estarão todos cercados.
– Traídos?! – exclamou Caspian. – Mas por quem?
– Por quem havia de ser? Algum anão renegado, é claro – disse
Nikabrik.
– Foi Destro, o seu cavalo – disse o doutor Cornelius. – O pobre
animal, não sabendo o que fazer depois da queda, simplesmente voltou para
a cavalariça do castelo. Fugi, para não ser interrogado na câmara de tortura
de Miraz. Por meio de minha bola de cristal, sabia muito bem onde podia
encontrá-lo. Mas durante o dia todo – isso foi há três dias – os homens de
Miraz percorreram os bosques. Ontem soube que o exército está a caminho.
Parece que alguns dos seus... dos seus anões de puro-sangue... não têm o
menor sentido de orientação. Deixaram pegadas por toda a parte. Grave
descuido. Seja como for, alguma coisa avisou Miraz de que a antiga Nárnia
não está extinta, como ele julgava, e por isso ele entrou em ação.
– Oba! – ouviu-se uma vozinha muito estridente, junto dos pés do
doutor. – Podem vir! Só peço que o rei me coloque, a mim e aos meus, na
linha de frente.
– Que negócio é esse? – perguntou o doutor. – Há gafanhotos... ou
mosquitos incorporados ao exército? – Depois, inclinando-se e olhando
atentamente através dos óculos, desatou a rir, exclamando: – Pela juba do
Leão! É um rato. Senhor Rato, tenho grande prazer em conhecê-lo. É uma
honra encontrar um bicho tão valente.
– Pode contar com a minha amizade, sábio doutor – guinchou
Ripchip. – Qualquer anão... ou gigante... que se atreva a falar-lhe sem
respeito terá de enfrentar esta espada.
– Ainda há tempo para essas palhaçadas? – perguntou Nikabrik. –
Quais são, afinal, os seus planos? Lutar ou fugir?
– Lutar, se for necessário – declarou Trumpkin. – Mas acho que não
estamos preparados para uma guerra, e aqui temos pouca defesa.
– Não me agrada fugir – disse Caspian.
– Atenção! Ouçam o que ele diz – gritaram os ursos. – Haja o que
houver, nada de fugir. E nunca antes da ceia. Nem logo a seguir, é claro.
– Os que fogem primeiro nem sempre são os que haverão de fugir no
final – disse o centauro. – E por que havemos de deixar que o inimigo
escolha posições, em vez de as escolhermos nós? Proponho que se procure