Page 347 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 347
8
A PARTIDA DA ILHA
Trumpkin continuou... Você já percebeu que era ele quem, sentado
na relva do salão em ruínas de Cair Paravel, estava contando a história para
as quatro crianças:
– E assim meti no bolso um naco de pão e, só com o meu punhal,
parti de madrugada na direção dos bosques. Já caminhava havia horas,
quando ouvi um som diferente de tudo quanto ouvira até ali. E nunca mais
me esqueci! Um som vibrante, forte como o estrondo do trovão, mas muito
mais prolongado; melodioso e doce como a música sobre a água, mas com
intensidade bastante para estremecer os bosques. Ao ouvi-lo, disse para
mim mesmo: “Macacos me mordam, se isto não é a trompa!” E fiquei
imaginando por que Caspian não a teria tocado mais cedo...
– A que horas foi isso? – perguntou Edmundo.
– Entre nove e dez.
– Exatamente a essa hora estávamos nós na estação – disseram as
crianças, entreolhando-se com os olhos brilhantes de excitação.
– Por favor, continue – pediu Lúcia ao anão.
– Bem, como ia dizendo, fiquei pensando mas fui em frente, o mais
depressa que podia. Andei a noite toda e, hoje de manhãzinha, quando
começava a clarear, comportando-me como um gigante imbecil, resolvi
encurtar caminho. Para evitar uma curva enorme do rio, meti-me a campo
descoberto. Foi aí que me pegaram. Não caí prisioneiro do exército, mas de
um idiota metido a besta, que toma conta de um pequeno castelo perto da
costa, último reduto de Miraz. Não preciso dizer que não arrancaram de
mim uma única palavra, mas eu era um anão, e isso bastava. Mas, com
trinta diabos, foi uma sorte o oficial ser um bestalhão cheio de prosa. Outro
qualquer teria acabado comigo ali mesmo. Ele, porém, só se contentaria
com uma execução grandiosa: entregar-me aos fantasmas, com toda a
pompa. Mas esta jovem (fez com a cabeça um sinal indicando Susana)
recorreu à arte do arqueiro – que bela pontaria, parabéns! – e aqui estamos
todos, sãos e salvos. No meio disso tudo, só perdi a armadura. Tendo
chegado ao fim, o anão sacudiu o cachimbo e tornou a enchê-lo
cuidadosamente.
– Fabuloso! – exclamou Pedro. – Então foi a trompa... a sua trompa,