Page 350 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Num abrir e fechar de olhos, desembainharam as espadas, enquanto
                  os outros três  pulavam  do  estrado, para ver  o que  aconteceria.  E  valia  a
                  pena. Porque não era um daqueles ridículos combates à espada, que a gente
                  vê no cinema. Nem mesmo uma daquelas lutas de florete, que costumam
                  ser  um  pouco  melhores.  Não,  era  um  verdadeiro  combate  à  espada.  O
                  principal num encontro desses é atacar as pernas e os pés do inimigo, visto
                  serem as únicas partes do corpo sem armadura. E, quando o outro faz o
                  mesmo, o jeito é pular, para que os golpes passem por baixo. Para o anão
                  isso  foi  uma  vantagem,  pois  Edmundo,  sendo  muito  mais  alto,  tinha  de
                  abaixar-se  a  todo  momento.  E  não  acho  que  Edmundo  teria  tido  alguma
                  chance de ganhar, caso tivesse enfrentado Trumpkin vinte e quatro horas
                  antes. Mas, desde que tinham chegado à ilha, a atmosfera de Nárnia estava
                  atuando sobre ele; o entusiasmo dos antigos combates invadiu-o nos braços
                  e  nos  dedos,  e  voltou  a  sentir  a  antiga  destreza.  Era  outra  vez  o  rei
                  Edmundo! Os golpes seguiam-se, obrigando os combatentes a se moverem
                  em círculo, e Susana, que nunca conseguira habituar-se a esse gênero de

                  coisas, gritava:
                         – Cuidado! Cui-da-do!

                         A certa altura, num  movimento tão rápido que ninguém conseguiu
                  ver  bem  o  lance  (a  não  ser  Pedro,  que  já  sabia  o  que  ia  acontecer),
                  Edmundo, dando um jeito especial à espada, desarmou o anão, deixando
                  Trumpkin a esfregar a mão vazia, como a gente faz depois de ser picado
                  por uma abelha.

                         –  Espero  que  não  tenha  se  machucado,  amigo!  –  disse  Edmundo,
                  ainda um pouco ofegante, ao guardar a espada na bainha.
                         –  Agora  estou  entendendo.  –  disse  Trumpkin,  secamente.  –  Você
                  sabe um truque que eu não sei.

                         –  É  pura  verdade  –  apressou-se  a  concordar  Pedro.  –  O  melhor
                  espadachim do mundo não resiste a um golpe desconhecido. Por isso, acho
                  justo que se dê a Trumpkin uma oportunidade, em qualquer outra coisa. E
                  se fosse tiro ao alvo, ali com a minha irmã? Não pode haver truque!

                         –  Estou  vendo  que  vocês  gostam  de  se  divertir.  Como  se  eu  não
                  conhecesse a pontaria dela depois do que aconteceu hoje de manhã! Mas,
                  vá lá! Quero ver.

                         Falou  como  quem  está  mal-humorado,  mas  seus  olhos  brilhavam,
                  porque, entre os seus, era atirador famoso.

                         Foram os cinco para o pátio.
                         – Qual é o alvo? – perguntou Pedro.

                         –  Pode ser aquela  maçã naquele  ramo  em  cima  do  muro – propôs
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