Page 345 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Conselho  de  Guerra,  com  Cornelius,  o  texugo,  Nikabrik  e  Trumpkin.
                  Velhas colunas maciças sustentavam o telhado; ao centro, a Mesa de Pedra,
                  fendida de lado a lado, coberta com o que deviam ter sido caracteres de
                  alguma escrita antiga. Anos e anos de chuva, vento e neve tinham apagado
                  quase por completo os relevos da pedra, antes mesmo que o Monte fosse
                  erguido sobre ela. O Conselho não se reunira à volta da Mesa, nem estava
                  fazendo  uso  desta  –  o  seu  caráter  sagrado  tornava-a  imprópria  para  fins
                  vulgares. Os membros do Conselho tinham se sentado em troncos, junto de
                  uma  tosca  mesa  de  madeira  sobre  a  qual  ardia  uma  lamparina  de  barro,
                  iluminando-lhes o rosto e projetando nas paredes sombras imensas.

                         – Se o rei tenciona algum dia fazer uso da trompa, acho que chegou a
                  hora – disse Caça-trufas.

                         –  Sem  dúvida,  estamos  numa  situação  desesperadora  –  concordou
                  Caspian. – Mas quem poderá dizer-nos se as coisas não vão piorar? E se
                  chegarmos  a  uma  situação  ainda  mais  desesperadora  depois  de  termos
                  tocado a trompa?

                         – Raciocinando desse jeito, a trompa só será tocada quando for tarde
                  demais – objetou Nikabrik.
                         – É verdade – disse o doutor.

                         – Que acha, Trumpkin? – perguntou Caspian.

                         –  Ora,  quanto  a  mim,  o  rei  sabe  bem  o  que  penso  da  Trompa...  e
                  desta pedra rachada... e do Grande Rei Pedro... e do seu Aslam. Tudo isso é
                  cascata –  declarou  o  anão,  que  seguira  a  conversa  com  a  mais  completa
                  indiferença. – Tanto faz que se toque a trompa agora, como em qualquer
                  outra hora. Só peço que não se fale disso com os soldados. Não vale a pena
                  alimentar esperanças em auxílios mágicos, que (na minha opinião) sempre
                  fracassam.

                         – Então, em nome de Aslam, farei soar a trompa da rainha Susana –
                  disse Caspian.

                         –  Temos  de  pensar  ainda  numa  coisa  –  disse  o  doutor.  –  Não
                  sabemos  sob  que  forma  nos  chegará  o  auxílio.  Pode  ser  que  o  próprio
                  Aslam venha de além-mar,  mas  me parece mais provável que, saídos do
                  passado,  venham  até  nós  o  Grande  Rei  Pedro  e  os  seus  bravos
                  companheiros. Num caso ou no outro, nada nos garante que o auxílio se
                  manifeste aqui...
                         – Perfeito! – interrompeu Trumpkin.

                         – É possível – prosseguiu o sábio – que eles ou ele voltem a alguns
                  dos velhos lugares de Nárnia. Este, onde nos encontramos agora, é o mais
                  antigo e mais sagrado de todos, pelo que me parece provável que a resposta
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