Page 337 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 337

–  Você  fala  de  uma  guerra  de  verdade  para  expulsar  Miraz?  –
                  perguntou Caspian.

                         –  E  o  que  mais  poderia  ser?  –  indagou  o  centauro.  –  Que  outro
                  motivo teria Vossa Alteza para andar de cota de malha e espada à cinta?

                         – Será possível, Ciclone? – perguntou o texugo.

                         –  É  o  momento  oportuno  –  respondeu  ele.  –  Eu  observo  os  céus,
                  texugo, porque compete a mim vigiar, como a você compete não esquecer.
                  Tarva  e  Alambil  encontraram-se  nos  salões  do  firma-mento,  e  na  terra
                  voltou a surgir um filho de Adão para governar e dar nome às criaturas. A
                  hora do combate soou. O nosso encontro no Gramado da Dança deve ser
                  um conselho de guerra.
                         Falou  de  tal  maneira  que  nem  por  um  momento  alguém  duvidou.
                  Caspian  e  os  outros  achavam  agora  perfeitamente  possível  ganhar  uma
                  batalha. Estavam certos de que, fosse como fosse, deveriam ir em frente.

                         Como  já  passasse  do  meio-dia,  descansaram  junto dos  centauros  e
                  comeram  o  que  estes  tinham  a  oferecer:  bolos  de  aveia,  maçãs,  salada,
                  vinho e queijo.

                         Era  perto  o  lugar  que  pretendiam  visitar,  mas  tiveram  de  dar  uma
                  grande  volta,  evitando  uma  região  habitada  pelos  homens.  A  tarde  já  ia
                  adiantada quando se acharam em terreno plano. Num buraco em uma valeta
                  verdejante,  Caça-trufas  chamou  alguém,  e  de  lá  saiu  a  última  coisa  que
                  Caspian poderia esperar: um rato falante.

                         Claro  que  era  maior  que  um  rato  comum  –  mais  de  trinta
                  centímetros, quando ficava em pé sobre as patas traseiras – , e suas orelhas
                  eram  quase  tão  compridas  quanto  as  de  um  coelho,  só  que  mais  largas.
                  Chamava-se Ripchip e tinha um ar marcial e alegre. Da cinta pendia-lhe um
                  minúsculo florete, e retorcia os longos pêlos do focinho como se fossem
                  bigodes.

                         – Somos doze, Real Senhor – disse, com rápida e graciosa vênia – , e
                  todos os recursos do meu povo estão incondicionalmente à sua disposição.
                         Caspian teve de fazer um enorme esforço para não rir, pois não pôde
                  evitar  o  pensamento  de  que  Ripchip  e  todo  o  seu  exército  podiam
                  facilmente ser carregados às costas, dentro de um cesto de roupa.

                         Tomaria um tempo enorme enumerar todos os animais que Caspian
                  conheceu nesse dia: Escava-terra, a toupeira, os três Trincadores (texugos
                  como  Caça-trufas),  Camilo,  a  lebre,  além  de  Barbaças,  o  ouriço.
                  Descansaram finalmente junto de um poço à beira de uma campina relvada,
                  à volta da qual cresciam choupos altos cuja sombra, ao poente, se alongava
                  sobre  o  campo.  As  margaridas  começavam  a  fechar  as  pétalas,  e  os
   332   333   334   335   336   337   338   339   340   341   342