Page 335 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Farfalhante  voltou  com  a  noz,  que  Caspian  comeu.  O  esquilo
                  perguntou se poderia ser útil, levando algum recado a outros amigos.

                         – Posso ir a quase todo lugar sem botar o pé no chão.

                         Caça-trufas  e  os  anões  acharam  que  era  uma  excelente  idéia  e
                  pediram  a  Farfalhante  que  levasse  recados  a  muita  gente  de  nomes
                  esquisitos, convidando a todos para uma reunião no Gramado da Dança, à
                  meia-noite, dali a três dias.

                         –  É  bom  avisar  também  os  três  Ursos  Barrigudos  –  acrescentou
                  Trumpkin. – Esquecemos de lhes dizer.
                         A  visita  seguinte  foi  aos  sete  irmãos  do  Bosque  Trêmulo.  Era  um
                  lugar  solene,  entre  rochedos  e  altas  árvores.  Avançaram  com  cuidado.
                  Trumpkin  chegou  junto  a  uma  pedra  achatada,  do  tamanho  da  tampa  de
                  uma talha de água, e bateu nela com o pé. Depois de demorado silêncio,
                  alguém arredou a pedra. Apareceu então um buraco redondo e escuro, do
                  qual saíam baforadas de fumaça e calor, e de onde emergiu a cabeça de um
                  anão, muito parecido com Trumpkin. Conversaram durante muito tempo.
                  Embora o anão parecesse mais desconfiado do que o esquilo ou os ursos,
                  acabou  convidando  todos  para  entrar.  Caspian  desceu  por  uma  escada
                  escura,  que  levava  a  uma  caverna  iluminada.  Estavam  numa  forja,  e  o
                  clarão vinha da fornalha. A um canto passava um riacho subterrâneo. Dois
                  anões trabalhavam no fole, um terceiro, com um par de tenazes, segurava
                  na bigorna um pedaço de metal em brasa, que um quarto anão batia. Outros
                  dois, limpando as pequenas mãos calosas num pano engordurado, foram ao
                  encontro  dos  visitantes.  Não  foi  fácil  convencê-los  de  que  Caspian  era
                  amigo, mas, uma vez convencidos, gritaram: “Viva o rei!”

                         Seus presentes eram preciosos: cotas de malha, elmos e espadas para
                  Caspian, Trumpkin e Nikabrik. Também quiseram dar o mesmo ao texugo,
                  mas este disse que era bicho, e bicho que não soubesse defender-se com as
                  patas e os dentes não tinha o direito de viver. Caspian jamais vira armas tão
                  perfeitas, e foi com grande alegria que aceitou a espada feita pelos anões,
                  em troca da sua que, comparada com aquela, parecia frágil e tosca. Os sete
                  irmãos (todos eles anões vermelhos) prometeram não faltar ao encontro no
                  Gramado da Dança.

                         Um pouco adiante, numa ravina seca e rochosa, ficava a caverna dos
                  cinco  anões  negros.  Olharam  desconfiados  para  Caspian,  até  que  o  mais
                  velho disse:

                         – Se ele é contra Miraz, será o nosso rei. Outro propôs:

                         –  Gostaria  de  ir  ao  despenhadeiro,  onde  ainda  vivem  dois  ogres  e
                  uma feiticeira?
                         – Não! – disse Caspian.
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