Page 332 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– De uma vez por todas, Nikabrik – disse Trumpkin – ou você se
                  controla ou Caça-trufas e eu nos sentamos em cima de sua cabeça...

                         Nikabrik, mal-humorado, prometeu ter mais calma, e os outros dois
                  pediram a Caspian que contasse a sua história. Quando acabou, houve um
                  momento de silêncio.

                         – É o caso mais estranho que conheço! – disse Trumpkin.

                         – Não acho graça nenhuma! – rosnou Nikabrik. – Não sabia que os
                  humanos  se  divertem  falando  de  nós.  Quanto  menos  souberem  de  nós,
                  melhor. Foi então a velha ama? Era melhor que ela tivesse ficado de bico
                  calado. E, ainda por cima, esse preceptor, um anão renegado. Odeio eles!
                  São piores que os humanos! Ouçam o que eu digo: tudo isso só vai nos
                  trazer aborrecimentos!
                         – Não diga besteira, Nikabrik! – disse Caça-trufas. – Vocês, anões,
                  são  tão  esquecidos  e  inconstantes  quanto  os  humanos.  Eu,  não,  sou  um
                  bicho; mais que isso, sou um texugo, e os texugos sabem o que querem.
                  Não andam por aí sempre a mudar de idéia. E eu digo que um grande bem
                  está por vir. Temos conosco o verdadeiro rei de Nárnia: um verdadeiro rei,
                  que  volta  à  verdadeira  Nárnia.  E  nós,  os  bichos,  estamos  lembrados
                  (mesmo que os anões tenham esquecido) que Nárnia só foi feliz quando
                  teve no trono um filho de Adão.

                         –  Espere  aí,  Caça-trufas  –  falou  Trumpkin  –  ,  não  vá  dizer  que
                  pretende entregar nosso país aos humanos?

                         –  Quem  disse  isso?  –  replicou  o  texugo.  –  Nárnia  não  é  terra  dos
                  homens  (quem  vai  me  ensinar  isso?),  mas  é  uma  terra  que  deve  ser
                  governada por um Homem. Nós, os texugos, temos razões de sobra para
                  acreditar nisso. Pois o Grande Rei Pedro também não era um Homem?

                         – Você acredita nessa história? – perguntou Trumpkin.

                         –  Já  disse!  Nós  não  mudamos  de  opinião  todos  os  dias.  Não
                  esquecemos facilmente. Acredito no rei Pedro e nos outros que reinaram
                  em Cair Pa-ravel, com a mesma certeza que acredito no próprio Aslam.
                         – Com a mesma certeza? Mas quem é que ainda acredita em Aslam?
                  – indagou Trumpkin.

                         – Eu acredito – disse Caspian. – E, mesmo que não acreditasse antes,
                  acreditaria  agora.  Entre  os  humanos,  os  que  se  riem  de  Aslam  também
                  zombariam  se  eu  lhes  dissesse  que  existem  anões  e  animais  falantes.  Já
                  cheguei  a  perguntar  a  mim  mesmo  se  Aslam  de  fato  existiria,  mas  a
                  verdade é que também muitas vezes duvidei da existência de gente como
                  vocês. E vocês não estão aí?

                         – Tem razão, rei Caspian – disse Caça-trufas. – Enquanto for fiel à
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