Page 328 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 328
– Sem dúvida alguma.
– Mas por quê?... Por que não me matou há mais tempo? Que mal eu
fiz?
– Míraz mudou de opinião a seu respeito, em virtude do que
aconteceu há apenas duas horas. A rainha acaba de dar à luz um filho.
– O que uma coisa tem a ver com a outra?
– Não entendeu?! Então, que proveito tirou das minhas lições de
história e de política? Ouça: enquanto o rei não tinha filhos, estava disposto
a deixar que você fosse rei quando ele morresse. Mesmo sem ter por você
grande amizade, preferia que o trono fosse seu, e não de um estranho. Mas
agora, que tem um filho, quer fazer dele o herdeiro. Você passou a ser um
empecilho, e ele fará tudo para afastá-lo do caminho.
– Ele é tão ruim assim? Será mesmo capaz de me matar?
– Matou também o seu pai – disse doutor Cornelius.
Caspian sentiu-se mal e calou-se.
– Um dia poderei contar-lhe essa história – continuou o doutor – ,
mas não agora. Não temos tempo a perder. Você tem de fugir
imediatamente.
– Vem comigo? – perguntou Caspian.
– Não. Seria muito arriscado. É mais fácil seguir dois do que um,
caro príncipe. Nobre rei Caspian, chegou a hora da coragem. Você tem de
partir só e imediatamente. Veja se consegue atravessar a fronteira do Sul
para chegar à corte de Naim, rei da Arquelândia. Ele poderá ajudá-lo.
– Nunca mais nos veremos? – perguntou Caspian, com a voz
trêmula.
– Espero que sim, nobre rei – respondeu o doutor. – Pois não é você
o único amigo com que posso contar? Tenho as minhas artes mágicas...
Mas, por ora, o importante é ganhar tempo. Aqui estão dois presentes. Esta
bolsinha de ouro... bem pouco, é certo, quando todos os tesouros do castelo
pertencem a você, de direito. E aqui está outra coisa mais valiosa.
Passou às mãos de Caspian um objeto que ele mal distinguiu, mas
que, pelo tato, percebeu que era uma trompa.
– É o mais sagrado tesouro de Nárnia – disse doutor Cornelius. –
Quando era jovem, passei por muita coisa e proferi muitas palavras
mágicas, na esperança de encontrar a trompa que pertenceu à rainha
Susana. Ficou aqui quando ela desapareceu de Nárnia, ao findar a Idade de
Ouro. Quem quer que a toque, receberá um estranho, um misterioso auxílio
– que ninguém sabe dizer. Pode ser que tenha o poder de trazer do passado