Page 323 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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brilhavam como duas luzinhas.
– Vão bater? – perguntou Caspian, receoso.
– Não, meu príncipe – disse o doutor, baixinho. – Os grandes
senhores do céu superior conhecem muito bem os passos de sua dança.
Olhe bem para elas. Seu encontro é auspicioso e indica que um grande bem
vai acontecer ao triste reino de Nárnia. Tarva, o Senhor da Vitória, saúda
Alambil, a senhora da Paz. Estão chegando ao ponto máximo de
aproximação.
– Que pena aquela árvore estar na frente! – disse Caspian. –
Veríamos muito melhor da torre ocidental, embora não seja tão alta.
Por uns momentos, o doutor Cornelius, de olhos fixos em Tarva e
Alambil, ficou em silêncio. Respirou fundo e voltou-se para Caspian:
– Acaba de ver o que nenhum homem hoje vivo jamais viu ou verá.
Tem razão: teríamos visto ainda melhor da outra torre. Mas tive um motivo
para trazê-lo aqui.
O aluno levantou os olhos, mas o mestre tinha o rosto quase todo
encoberto pelo capuz. O doutor continuou:
– A vantagem desta torre é que temos seis salas vazias abaixo de nós
e uma longa escada; além do mais, a porta ao fundo está fechada à chave.
Ninguém poderá ouvir-nos.
– Vai então dizer-me o que não quis dizer outro dia? – perguntou
Caspian.
– Vou, mas não se esqueça de uma coisa: só aqui, no alto da Grande
Torre, poderemos falar desse assunto. Promete?
– Prometo – disse Caspian. – Mas, por favor, continue.
– Preste atenção: tudo o que lhe disseram sobre a antiga Nárnia é
verdade. Nárnia não é a terra dos homens. É a terra de Aslam, das árvores
despertas, das náiades visíveis, dos faunos, dos sátiros, dos anões e dos
gigantes, dos centauros e dos animais falantes. Foi contra eles que lutou
Caspian I. Foram vocês, os telmarinos, que calaram os animais, as árvores
e as fontes; que mataram e expulsaram os anões e os faunos; são vocês que
pretendem agora desfazer até a lembrança do que existiu. O rei não
consente sequer que se fale deles.
– Desejaria que não tivéssemos feito nada disso! – disse Caspian. –
Mas estou muito feliz por saber que tudo é verdade, ainda que tudo tenha
acabado.
– Muitos de sua raça desejam a mesma coisa, em segredo.
– Mas, doutor, por que me diz a sua raça? Você não é também um