Page 322 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Mas por quê?! – indagou Caspian.
– Vamos à gramática – disse o doutor Cornelius, voltando a falar
alto. – Queira Vossa Alteza abrir na página 4 do seu Jardim gramatical ou
Árvore morfológica aprazivelmente ao alcance de talentos jovens.
A partir desse momento, só falaram de verbos e substantivos até a
hora do almoço; mas acho que Caspian não aprendeu muito. Estava muito
nervoso. Tinha certeza de que o doutor Cornelius não lhe teria dito tanta
coisa, caso não tivesse a intenção de dizer-lhe outras, mais cedo ou mais
tarde.
Não se enganou. Dias depois, o preceptor disse-lhe:
– Esta noite vou dar-lhe uma lição de astronomia. Tarde da noite,
dois nobres planetas, Tarva e Alambil, vão cruzar-se a menos de um grau
um do outro. Há mais de dois séculos que não se observa essa conjunção, e
Vossa Alteza não viverá para vê-la novamente. É melhor que vá deitar-se
um pouco mais cedo; quando se aproximar o momento, irei acordá-lo.
Isso não tinha nada a ver com a antiga Nárnia, que era o que
interessava a Caspian, mas, de qualquer forma, levantar-se no meio da
noite é sempre uma aventura, e ele ficou contente.
Quando sentiu que o sacudiam de leve, achou que tinha dormido
apenas alguns minutos. Sentou-se na cama e viu que o luar invadia o
quarto. Doutor Cornelius, envolto num manto com capuz e segurando uma
lamparina, estava ao pé da cama. Caspian lembrou-se logo do que tinham
combinado. Levantou-se e vestiu-se. Embora fosse verão, a noite estava
mais fria do que esperava. Mais satisfeito ficou quando o preceptor o
envolveu numa capa igual à sua e lhe entregou um par de chinelos quentes
e macios.
Assim vestidos, dificilmente seriam reconhecidos nos corredores
escuros. Sem fazer barulho, aluno e mestre saíram do quarto.
Passaram por muitos corredores, subiram várias escadas, até que,
entrando por uma portinha que dava para um torreão, chegaram ao ar livre.
Lá embaixo, cheios de sombra ou reflexos, estendiam-se os jardins do
castelo, enquanto no alto brilhavam a lua e as estrelas. Chegaram enfim à
porta que dava para a grande torre central. Caspian estava cada vez mais
excitado, pois nunca lhe fora permitido subir aquela escada. Era íngreme e
comprida, mas, quando chegou ao terraço da torre, recobrou o alento.
Valera a pena. À direita, muito ao longe, divisavam-se as Montanhas
Ocidentais. À esquerda, rebrilhava o Grande Rio. Tudo estava tão calmo,
que se ouvia o rugir da água no Dique dos Castores, a um quilômetro de
distância. Não tiveram dificuldade em localizar as duas estrelas. Estavam
muito baixas na linha do horizonte, ao sul, pertinho uma da outra, e