Page 314 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 314

Não se lembra? Embora tenhamos passado muito tempo em Nárnia, quando
                  retornamos pelo guarda-roupa parecia que não havia passado tempo algum.
                  É ou não é?

                         –  Continue  –  disse  Susana  –  ,  acho  que  estou  começando  a
                  compreender.

                         – Isso quer dizer – prosseguiu Edmundo – que quando se está fora de
                  Nárnia a gente perde toda a noção de como o tempo passa aqui. Por que
                  então  havemos  de  achar  impossível  que  em  Nárnia  tenham  passado
                  centenas de anos, enquanto para nós passou apenas um?

                         – Puxa vida! – exclamou Pedro. – Acho que você tem razão. Vendo
                  as coisas desse jeito, já se passaram mesmo séculos desde que reinamos em
                  Cair  Paravel!  Agora,  voltamos  a  Nárnia  como  se  fôssemos  cruzados,  ou
                  anglo-saxões, ou antigos bretões, ou alguém de regresso à Inglaterra dos
                  tempos modernos!
                         –  Todos  vão  ficar  emocionados  ao  nos  ver...  –  começou  Lúcia,
                  quando foi interrompida por alguém:

                         – Silêncio! Olhem ali!

                         Estava acontecendo alguma coisa.

                         Na terra firme, um pouco à direita, havia uma floresta; todos tinham
                  certeza  de  que  a  foz  do  rio  ficava  além  dela.  Agora,  torneando  aquela
                  ponta, surgira um barco. Passou, deu meia-volta e começou a avançar ao
                  longo  do  canal  na  direção  deles.  Um  homem  remava  e  um  outro  estava
                  sentado no leme com um embrulho na mão, um embrulho que se torcia e
                  contorcia como se estivesse vivo.

                         Os  homens  pareciam  soldados.  Usavam  capacetes  de  aço  e  leves
                  cotas  de  malha.  Ambos  tinham  barba  e  a  expressão  severa.  As  crianças
                  fugiram  da  praia  e  se  esconderam  no  mato,  onde  ficaram  imóveis,  à
                  espreita.
                         – Aqui está bom! – disse o soldado do leme, quando o barco parou
                  em frente deles.

                         – Não seria bom amarrar uma pedra nos pés dele, cabo? – sugeriu o
                  outro, descansando os remos.

                         – Besteira! – grunhiu o primeiro. – Além disso, não trouxemos pedra.
                  De qualquer jeito, com pedra ou sem pedra, ele vai se afogar, pois as cordas
                  estão bem amarradas.

                         Levantou-se e ergueu o fardo. Pedro percebeu que era mesmo uma
                  coisa  viva:  um  anão,  de  pés  e  mãos  amarrados,  que  tentava  com  toda  a
                  força libertar-se. Ouviu-se qualquer coisa sibilando. O soldado levantou os
                  braços, deixando o anão cair no fundo do barco, e tombou dentro da água.
   309   310   311   312   313   314   315   316   317   318   319