Page 415 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Ainda  brincam  como  antes?  –  perguntou  Eustáquio,  que  andara
                  escutando atrás da porta e agora arreganhava os dentes.

                         No ano anterior, quando estivera em casa dos Pevensie, conseguira
                  flagrar  os  primos  conversando  sobre  Nárnia  e  adorava  aborrecê-los  por
                  causa disso. Achava que eles estavam imaginando aquilo tudo e, como era
                  bestalhão demais para imaginar seja lá o que fosse, não via a menor graça.

                         –  Ora,  vá  andando,  não  queremos  você  aqui  –  disse  Edmundo
                  secamente.

                         – Estou vendo se me recordo de uns versinhos – disse Eustáquio –,
                  qualquer coisa mais ou menos assim:
                         Uns meninos que brincavam de Nárnia Foram ficando cada vez mais
                  birutas...

                         – Pra começo de conversa, Nárnia e birutas não rimam – disse Lúcia.

                         – É uma rima toante – disse Eustáquio.

                         –  Não  pergunte  para  ele  o  que  é  isso!  Está  doido  para  que  você
                  pergunte! Não fale nada, talvez assim ele se mande.

                         Com  uma  recepção  dessas,  qualquer  garoto  teria  ido  embora,  mas
                  Eustáquio  era  diferente.  Continuou  a  rondar  de  um  lado  para  outro,
                  arreganhando os dentes, e de repente voltou a falar:
                         – Você gosta deste quadro?

                         – Pelo amor de Deus, não deixe ele começar a falar de arte e outras
                  coisas – interrompeu Edmundo depressa. Mas Lúcia, que era de muito boa-
                  fé, já havia dito:

                         – Adoro!
                         – É uma porcaria de pintura – disse Eustáquio.

                         –  Caia  fora  daqui,  que  você  não  vê  mais  a  porcaria  –  respondeu
                  Edmundo.

                         – Por que você gosta dele? – perguntou Eustáquio a Lúcia.

                         –  Por  um  motivo  especial  –  respondeu  Lúcia.  –  Porque  o  navio
                  parece que está andando, a água parece mesmo molhada, e as ondas sobem
                  e descem.

                         Eustáquio podia dar-lhe meia dúzia de respostas, mas dessa vez nada
                  disse. Naquele mesmo instante, ao olhar para as ondas, viu que realmente
                  elas  pareciam  em  movimento.  Só  havia  andado  de  barco  uma  vez  (uma
                  pequena  distância),  mas  tinha  enjoado  pra  valer.  Ao  ver  as  ondas  do
                  quadro,  ficou  de  novo  enjoado.  Já  estava  quase  verde,  mas  tentou  olhar
                  mais uma vez. E aí as três crianças ficaram estupefatas e boquiabertas.
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