Page 417 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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conservou os olhos abertos. Estavam muito perto do navio e a menina via o
                  costado verde, erguendo-se lá no alto, e várias pessoas olhando do convés.

                         Então,  como  era  de  esperar,  Eustáquio  agarrou-se  a  ela,  cheio  de
                  pavor,  e  os  dois  foram  para  o  fundo.  Quando  voltaram  à  superfície,  a
                  menina  viu  uma  figura  vestida  de  branco  mergulhando  do  costado  do
                  navio. Edmundo estava agora junto dela, bracejando e segurando os braços
                  de Eustáquio, que não parava de gritar. De repente alguém cujo rosto lhe
                  era vagamente familiar passou-lhe o braço por debaixo do corpo. Do navio
                  gritavam  o  tempo  todo;  na  amurada  apinhavam-se  cabeças  e  de  bordo
                  lançavam cordas. Lúcia sentiu que Edmundo e o desconhecido lhe atavam
                  cordas ao corpo.

                         Seguiu-se o que lhe pareceu uma longa espera, durante a qual ficara
                  com o rosto arroxeado e batendo queixo. Mas na verdade a espera não foi
                  de  fato  grande;  só  estavam  aguardando  pelo  momento  em  que  poderiam
                  içá-la  para  bordo,  sem  ir  de  encontro  ao  costado  do  navio.  Mesmo  com
                  todas  essas  precauções,  quando  finalmente  alcançou  o  convés,  toda
                  encharcada  e  tremendo  de  frio,  tinha  um  joelho  machucado.  Puxaram
                  depois Edmundo e o infeliz Eustáquio. Por fim, subiu o desconhecido – um
                  rapaz de cabelos dourados, alguns anos mais velho do que a menina.

                         –  Ca...  Ca...  Caspian  –  gaguejou  Lúcia,  logo  que  tomou  fôlego.
                  Porque era mesmo Caspian, o jovem rei de Nárnia, a quem haviam ajudado
                  a subir ao trono quando visitaram aquele país pela última vez.
                         Edmundo também o reconheceu. Cumprimentaram-se os três, dando
                  tapinhas nas costas uns dos outros, com grande alegria.

                         – Quem é o amigo de vocês? – perguntou logo Caspian, voltando-se
                  para Eustáquio, com semblante risonho e acolhedor.

                         Mas Eustáquio, que chorava de maneira inacreditável para um rapaz
                  da sua idade que não sofrerá mais do que uma simples molhadela, apenas
                  gritou:

                         – Quero ir embora! Não gosto disto!

                         – Embora para onde? – perguntou Caspian.
                         Eustáquio correu para a amurada do navio

                         como  se  esperasse  ver  a  moldura  do  quadro  sobre  o  mar  e,  quem
                  sabe, até mesmo um pedacinho do quarto de Lúcia. Mas só viu ondas azuis
                  e o céu, de um azul mais claro, estendendo-se até a linha do horizonte. É
                  compreensível que tenha ficado em pânico, e logo começou a enjoar.

                         – Chegue aqui, Rinelfo – disse Caspian para um dos marinheiros. –
                  Busque vinho aromático para Suas Majestades. Precisam de calor depois
                  desse
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