Page 419 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Ripchip  avançou  a  perna  esquerda,  afastou  para  trás  a  direita,  fez
                  uma reverência, beijou-lhe a mão, endireitou-se, torceu os bigodes e disse
                  na sua voz aguda e chiante:

                         – Sou vosso humilde servo, assim como do rei Edmundo. (Fez outra
                  reverência.)  A  esta  maravilhosa  aventura  faltava  apenas  a  presença  de
                  Vossas Majestades.

                         – Ai, ai, ai! Tirem-me daqui! – gemeu Eustáquio. – Tenho horror a
                  rato. Não agüento ver bicho fazendo palhaçada. São uns idiotas que gostam
                  de bancar os espertalhões.

                         –  Devo  compreender  –  disse  Ripchip  a  Lúcia,  de  pois  de  olhar
                  demoradamente para Eustáquio – que essa criatura singularmente descortês
                  está sob a proteção de Vossa Majestade. Porque se não for assim...
                         Lúcia e Edmundo espirraram ao mesmo tempo.

                         –  Mas  onde  estou  com  a  cabeça!  Deixei  vocês  aqui  com  a  roupa
                  molhada!  –  exclamou  Caspian.  –  Vamos  descer  para  mudar  de  roupa.
                  Como é natural, Lúcia, cedo-lhe o meu camarote, mas o que não tenho é
                  vestimenta feminina de acordo. Ripchip, mostre-lhes o caminho como um
                  bom sujeito.

                         –  Para  servir  a  uma  senhora,  mesmo  uma  questão  de  honra  pode
                  esperar,  pelo  menos  por  agora...  –  e  Ripchip  olhou  severamente  para
                  Eustáquio.

                         Mas Caspian os empurrou e logo Lúcia entrou por uma portinha para
                  a  cabine  da  popa.  Ficou  encantada.  Na  salinha  abriam-se  três  janelas
                  quadradas para o mar revolto; bancos baixos e almo-fadados cercavam os
                  três  lados  da  mesa;  uma  lâmpada  de  prata  balançava  sobre  suas  cabeças
                  (viu logo que era trabalho de anões, pela delicada perfeição) e, na parede
                  em frente, a efígie de ouro de Aslam, o Leão, pendurada acima da porta.
                  Viu tudo isso num relance, pois Caspian imediatamente abriu uma porta a
                  bombordo e disse:

                         –  Este  agora  vai  ser  o  seu  quarto,  Lúcia.  Só  vou  tirar  daqui umas
                  peças de roupa para mim – e enquanto falava remexia as gavetas – e depois
                  deixo você à vontade. Ponha sua roupa lá fora; mandarei que a levem para
                  secar.
                         Lúcia sentia-se tão à vontade no camarote como se o ocupasse havia
                  semanas. O movimento do navio não a incomodava nem um pouco, pois
                  nos velhos tempos em que fora rainha em Nárnia tinha viajado muito. O
                  camarote  era  pequeno,  mas  muito  alegre,  com  painéis  pintados  (aves,
                  outros bichos, dragões vermelhos e trepadeiras), e estava imaculadamente
                  limpo. As roupas de Caspian eram demasiado grandes, mas ela conseguiu
                  dar um jeito. Os sapatos, as sandálias e as galochas é que eram impossíveis
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