Page 424 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Acho que vou dar uma olhada em Eustáquio. Como sabem, o enjôo
é uma coisa terrível. Se tivesse comigo o meu antigo elixir, poderia curá-lo.
– Pois está aqui – disse Caspian. – Tinha-me esquecido
completamente. Como o deixou ao partir, achei que podia ser guardado
como patrimônio do tesouro real e o trouxe. Se acha que deve ser
desperdiçado em uma coisa como enjôo...
– Só vou gastar uma gota – garantiu Lúcia.
Caspian abriu uma gaveta e tirou o frasquinho de diamante de que
Lúcia se lembrava tão bem.
– Restituo-lhe o que é seu.
Depois voltaram para a luz do sol. Havia no convés duas grandes
escotilhas, sempre abertas quando o tempo estava bom, uma de cada lado
do mastro, para deixar passar a luz e o ar para o interior do navio. Caspian
conduziu-os por uma escada que levava à escotilha da frente. Acharam-se
em um compartimento onde se enfileiravam lado a lado bancos para
remadores; a luz, entrando pelo orifício dos remos, dançava no teto.
Claro que o navio de Caspian não se parecia nada com uma galera
movida a remo por escravos. Só eram usados os remos quando não havia
vento ou para entrar ou sair de algum porto. Todos, menos Ripchip, que
tinha as pernas curtas demais, remavam muitas vezes. De cada lado do
barco, debaixo dos bancos, havia um espaço para os pés dos remadores, e,
bem no centro de tudo, uma espécie de poço que descia até a quilha, cheio
de vasos das mais variadas coisas: sacos de farinha, tonéis de cerveja e
água, barris com carne de porco, jarros de mel, odres de vinho, maçãs,
nozes, queijos, biscoitos, nabos, fatias de toucinho. Do teto – isto é, da
parte de baixo do convés – pendiam presuntos e braçadas de cebolas e,
deitados nas suas redes, os vigias que estavam de serviço.
Depois foram para a popa, chegando a uma parede de madeira com
uma porta, que Caspian abriu. Entraram numa cabine que ocupava a parte
de baixo da popa e dos camarotes do convés. Não era tão bonita quanto a
outra. O teto era muito baixo, e as paredes tinham uma inclinação muito
acentuada. Embora de vidro grosso, as janelas não podiam ser abertas, pois
ficavam quase debaixo do nível da água. Conforme o navio mergulhava,
pareciam alternadamente douradas, com a luz do sol, ou verde-escuras,
com o mar.
– Eu e você, Edmundo, vamos ficar alojados aqui – disse Caspian. –
Cederemos ao seu parente o beliche e dormiremos nas redes.
– Rogo a Vossa Majestade... – disse Drinian.