Page 425 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Não,  meu  amigo  –  replicou  o  rei  –,  já  discutimos  isso.  Você  e
                  Rince (Rince era o ajudante) dirigem o navio e terão muito trabalho todas
                  as noites, enquanto nós ficaremos a cantar ou a contar histórias. Por isso,
                  vocês ficam no camarote superior. O rei Edmundo e eu ficaremos embaixo
                  comodamente instalados. Como vai indo o estrangeiro?

                         Eustáquio,  muito  esverdeado,  fechou  a  cara  e  quis  saber  se  havia
                  indícios de a tempestade acalmar.

                         –  Que  tempestade?  –  perguntou  Caspian.  E  Drinian  caiu  na
                  gargalhada, dizendo:

                         – Tempestade, meu jovem?! Não se pode pedir um tempo melhor!
                         – Quem é esse cidadão? – perguntou Eustáquio, irritado. – Mandem
                  que ele se retire. A voz dele me dá nos nervos.

                         – Trouxe uma coisa que vai fazer-lhe bem, Eustáquio – disse Lúcia.

                         – Ora, deixem-me em paz! – resmungou Eustáquio. Mas tomou uma
                  gota do frasco. Apesar de dizer que era uma droga horrenda (o cheiro que
                  se  espalhou  pela  cabine  era  delicioso),  seu  rosto  retomou  a  cor  natural,
                  segundos depois de ter bebido.

                         Devia sentir-se melhor, pois, em vez de queixar-se da tempestade e
                  da cabeça, começou a pedir que o desembarcassem e a garantir que haveria
                  de “apresentar queixa” contra todos eles ao cônsul britânico, no primeiro
                  porto a que chegassem.

                         Quando  Ripchip  perguntou  que  queixa  era  essa  e  como  se
                  apresentava  (Ripchip  achava  que  era  uma  nova  maneira  de  arranjar  um
                  duelo), Eustáquio apenas pôde responder:
                         – Vejam só! Não sabe nem isso!

                         Por fim conseguiram convencê-lo de que estavam navegando o mais
                  depressa possível para a terra mais próxima que conheciam, e que ir para a
                  Inglaterra ou para a Lua seria a mesma coisa – impossível!

                         Acabou consentindo, de cara feia, em vestir outra roupa e subir para
                  o convés.

                         Caspian acompanhou-os na visita ao barco, ainda que já o tivessem
                  visto  quase  todo.  Subiram  ao  castelo  da  proa  e  viram  os  vigias  num
                  pequeno  compartimento  dentro  do  pescoço  dourado  do  dragão,  olhando
                  pela boca aberta. Dentro do castelo da proa estava a galé (ou cozinha do
                  navio) e os alojamentos do contramestre, do carpinteiro, do cozinheiro e do
                  arqueiro-mor.

                         Se  você  acha  estranho  que  a  cozinha  esteja  na  parte  da  frente,
                  pensando que o fumo da chaminé se espalha para trás, por todo o navio, é
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