Page 428 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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olhando o horizonte para as bandas do oriente e cantando na sua vozinha
chiante a canção que a dría-de lhe dedicara. Nunca se agarrava a nada e,
embora o navio pulasse, conservava facilmente o equilíbrio. Sua cauda, que
se estendia pelo convés, devia contribuir para essa estabilidade. Todos a
bordo conheciam esse hábito, e os marinheiros gostavam disso, pois é
sempre bom ter alguém para conversar quando se está de vigia. A
verdadeira razão que levou Eustáquio a ir escorregando, cambaleando,
tropeçando por todo o caminho até o castelo da proa (ainda não se
acostumara com os balanços do navio) é que eu nunca soube. Talvez
esperasse ver terra, talvez tenha ido rondar a cozinha do navio para ver se
abiscoitava alguma coisa. De qualquer modo, assim que viu aquela cauda
estendida – realmente devia ser uma tentação – pensou que seria genial
fazer Ripchip rodopiar preso pela cauda, uma ou duas vezes, para baixo e
para cima, e sair depois correndo em grandes risadas. A princípio tudo
parecia ir muito bem. O rato era pouco mais pesado que um gato grande.
Eustáquio o fez girar umas três vezes e achou muito engraçado ver Ripchip
com as patinhas afastadas e a boca aberta.
Mas, infelizmente, Rip lutara muitas vezes para defender a vida e
não perdeu a cabeça um só instante. Nem a agilidade. Não é muito fácil
desembainhar uma espada quando se está rodando no ar, preso pela cauda,
mas ele conseguiu.
Dois dolorosos golpes na mão obrigaram Eustáquio a soltar
imediatamente a cauda do rato. Endireitando-se logo, este saltou para o
convés como uma bola e enfrentou o rapaz; manejava para a frente e para
trás uma coisa comprida, brilhante, afiada como um espeto, apenas à
distância de cinco centímetros da barriga do adversário.
– Pare com isso! – berrou Eustáquio. – Vá embora! Vou contar tudo
para Caspian! Aposto que irão amordaçá-lo!
– Por que não tira a sua espada, covardão? – chiou o rato. – Tire-a e
lute, ou lhe baterei tanto com a espada que vou deixá-lo roxo.
– Nunca usei uma espada – disse Eustáquio. – Sou um pacifista. Não
me meto em brigas.
– Quer dizer – disse Ripchip, afastando a espada e falando com
grande severidade – que não pretende conceder-me uma reparação?
– Não entendo o que quer dizer – disse Eustáquio, esfregando a mão.
– Se você é incapaz de entender uma brincadeira, não vou perder meu
tempo.
– Então, tome esta – disse Ripchip – e mais esta, e esta, para
aprender a ter modos e a respeitar um Cavaleiro do Reino e a cauda de um