Page 432 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Ocorreu-me agora que talvez ninguém aqui ouça falar de Nárnia há
muito tempo. É bem possível que já não reconheçam a nossa soberania.
De qualquer forma, não é muito seguro ser conhecido como rei.
– Temos as nossas espadas – disse Ripchip.
– Sim, é claro, mas se tivermos de reconquistar as três ilhas prefiro
voltar aqui com um exército maior.
Já estavam muito perto dos homens, quando um deles, um
homenzarrão de cabelo escuro, gritou:
– Bom dia!
– Bom dia! – disse Caspian. – Ainda há um governador nas Ilhas
Solitárias?
– Claro que há – respondeu o homem –, o governador Gumpas. Sua
Excelência está em Porto Estreito. Sentem-se e bebam conosco.
Caspian agradeceu, e, ainda que nem ele nem os outros gostassem da
aparência dos novos conhecidos, sentaram-se todos. Mal tinham levado o
copo aos lábios, já o homem de cabelo escuro fazia sinal aos companheiros,
e num relâmpago os cinco visitantes viram-se agarrados por braços fortes.
A luta foi rápida, e logo estavam todos desarmados e com as mãos
amarradas às costas, com exceção de Ripchip, que se revirava nas mãos de
seu captor e o mordia furiosamente.
– Cuidado com esse animal, Taco – disse o chefe. – Não o
machuque. Vai alcançar o melhor preço de todo o lote. Quem haveria de
dizer!
– Covarde! Poltrão! – guinchava Ripchip. – Passe a minha espada e
liberte-me, se for homem!
– Puxa! – exclamou o mercador de escravos, pois era essa sua
profissão. – Ele fala! Nunca pensei!
Quero ser mico de circo se não fizer com ele duzentos crescentes. (O
crescente dos calormanos, que é a principal moeda da região, vale cerca de
duzentos reais.)
– Então o seu trabalho é esse? – falou Caspian.
– Raptor de crianças e vendedor de escravos! Deve sentir-se muito
orgulhoso...
– Ora, não comece com besteiras – interrompeu o mercador. –
Quanto mais bonzinhos ficarem, melhor será para todos. Não faço isso por
gosto. Tenho de ganhar a vida como todo o mundo.