Page 434 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 434

Aquele  rapaz, ora  essa,  é  também  o  meu  preferido.  Sinto  simpatia
                  por ele. Tenho um coração sensível, não devia ter entrado numa profissão
                  como esta. No entanto, para um cliente como Vossa Senhoria...

                         – Diga-me o preço dele, seu verme – disse o senhor, severamente. –
                  Acha que quero ouvir essa conversa mole?

                         – Trezentos crescentes, meu senhor, para a Vossa honrada Senhoria,
                  mas para qualquer outro...

                         – Dou cento e cinqüenta.
                         – Oh, por favor, por favor! – interrompeu Lúcia.

                         –  Seja  como  for,  não  nos  separe.  Não  sabe  que...  –  Mas  calou-se
                  logo,  pois  viu  que  Caspian,  nem  mesmo  naquela  situação,  queria  ser
                  reconhecido.

                         – Cento e cinqüenta! – repetiu o senhor. – Quanto a você, menina,
                  tenho muita pena, mas não posso comprar todos. Solte o rapaz, Pug. E trate
                  bem os outros enquanto estiverem nas suas mãos; do contrário, será pior
                  para você.

                         –  Essa  é  boa!  –  exclamou  Pug.  –  Quem  já  ouviu  falar  de  um
                  cavalheiro, nesse meu ramo de negócio, que tratasse a mercadoria melhor
                  do que eu?!

                         Trato deles como se fossem meus filhos.
                         – E bem provável que sim – disse o outro, de modo sombrio.

                         O momento terrível chegara. Caspian foi desatado e o seu novo amo
                  lhe disse:

                         – Por aqui, moço.
                         Lúcia desandou a chorar, e Edmundo ficou muito pálido. Caspian, no
                  entanto, olhou por cima do ombro, dizendo:

                         – Coragem! Tenho certeza de que no fim dará tudo certo. Até mais
                  ver.

                         – Vamos, menina – disse Pug –, não fique assim que estraga a sua
                  aparência.  Tem  de  ser  vendida  amanhã.  Comporte-se,  nada  de  choro.
                  Entendeu?

                         Foram  levados  em  um  bote  a  remo  para  o  barco  de  escravos  e
                  metidos num largo compartimento, bastante escuro e nada limpo, onde já se
                  encontravam outros infelizes prisioneiros. Pug, sem dúvida alguma, era um
                  pirata e havia naquela ocasião regressado de uma incursão pela ilha, onde
                  apanhara  tudo  o  que  pudera.  As  crianças  não  encontraram  nenhum
                  conhecido; a maior parte dos prisioneiros era de Galma ou de Terebíntia.
   429   430   431   432   433   434   435   436   437   438   439