Page 439 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 439
– Abram para o Rei de Nárnia, que vem em visita ao seu fiel servo, o
governador das Ilhas Solitárias.
Naquela época, tudo quanto se fazia nas ilhas era com desleixo e de
maneira descuidada. Abriu-se apenas uma portinhola do castelo e apareceu
um homenzinho com um chapéu sujo na cabeça, em vez de elmo, e um
chuço velho e enferrujado na mão. Pestanejou quando viu as figuras
brilhando na sua frente e, falando de um jeito que mal se podia entender,
disse:
– Não podem ver Sua Excelência. Não se concede audiência sem
hora marcada, exceto das nove às dez nos segundos sábados de cada mês.
– Tire o chapéu perante Nárnia, cão! – trovejou Bern, dando-lhe tal
pancada com sua mão imensa que o chapéu saltou-lhe da cabeça.
– Que é isto? – começou o porteiro, mas ninguém lhe deu
importância. Dois dos homens de Caspian entraram pela portinhola e,
depois de alguma luta com as trancas e ferrolhos (estava tudo enferrujado),
escancararam as duas partes do grande portão.
O rei e seu séquito entraram no pátio, onde cochilavam alguns
guardas, e muitos outros saíram aos tombos de várias portas, ainda
limpando a boca. Apesar de terem as armas em péssimas condições,
aqueles homens poderiam lutar se fossem levados a isso ou entendessem o
que estava se passando. O momento era na verdade perigoso, mas Caspian
não lhes deu tempo para pensar.
– Onde está o capitão? – perguntou.
– De certo modo sou eu, se é que está me entendendo – disse um
jovem de aspecto lânguido, sem armadura.
– É nossa intenção – disse Caspian – tornar a nossa visita um motivo
de alegria e não de terror para todos os nossos leais súditos das Ilhas
Solitárias. Se assim não fosse, teríamos muito que falar sobre o estado das
armas e das armaduras de seus homens. Por esta vez estão perdoados.
Mande abrir um tonel de vinho para que bebam todos à nossa saúde. Mas,
amanhã, ao meio-dia, quero vê-los neste pátio como gente de armas e não
como vagabundos. Providencie para que se cumpra como ordenamos, sob
pena do nosso real desagrado.
O capitão ficou boquiaberto, mas Bern gritou logo:
– Três vivas ao Rei! – E os soldados, que tinham ouvido qualquer
coisa acerca de um tonel de vinho, mesmo sem terem entendido nada mais,
juntaram-se a eles.
Caspian ordenou que a maior parte de seus homens ficasse no pátio.
Ele, Bern, Drinian e mais quatro outros entraram no salão. O governador