Page 441 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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sinais,  conforme  supunha,  para  outros  navios.  Não  havia  reconhecido  o
                  navio do rei, pois não havia vento suficiente para desenrolar a bandeira e
                  tornar  visível  o  leão  de  ouro,  e  assim  esperara  pelos  acontecimentos.
                  Julgava  agora  que  Caspian  tinha  uma  armada  completa  no  domínio  de
                  Bern. Gumpas nunca seria capaz de supor que alguém entrasse em Porto
                  Estreito para tomar as ilhas com menos de trinta homens; não era de modo
                  algum uma coisa que ele mesmo tivesse coragem de fazer...

                         –  Em  segundo  lugar  –  disse  Caspian  –,  gostaria  de  saber  por  que
                  permitiu que se desenvolvesse aqui esse ignominioso tráfico de escravos,
                  contrariando antigos usos e costumes de nossos domínios.

                         – Não foi possível ser de outro modo – respondeu Sua Excelência. –
                  Posso  assegurar-lhe  que  é  uma  parte  essencial  do  desenvolvimento
                  econômico  das  ilhas.  O  nosso  presente  estado  de  prosperidade  depende
                  disso.

                         – Mas que necessidade tem dos escravos?
                         –  Para  exportação,  Majestade.  São  vendidos  especialmente  para  a
                  Calormânia. E temos outros mercados. Somos um grande centro comercial.

                         – Em outras palavras, não precisa deles. Tem outra finalidade além
                  de encher os bolsos de um tal de Pug?

                         –  Os  verdes  anos  de  Vossa  Majestade  –  disse  Gumpas  com  um
                  sorriso  que  pretendia  ser  paternal  –  impedem-no  de  compreender  o
                  problema  econômico  daí  resultante.  Mas  eu  tenho  estatísticas,  gráficos,
                  tenho...

                         – Por mais verde que seja a minha idade, acho que entendo tanto de
                  comércio de escravos quanto Vossa Excelência. O tráfico não traz para a
                  ilha  carne,  pão,  cerveja,  vinho,  madeira,  couve,  livros,  instrumentos
                  musicais, armaduras ou qualquer outra coisa. Mas, mesmo que trouxesse,
                  não pode ria continuar.

                         –  Isso  seria  o  mesmo  que  impedir  o  relógio  de  marcar  o  tempo  –
                  articulou a custo o governador.
                         – Não faz idéia do que seja o desenvolvimento, o progresso?

                         -Já vi essas duas coisas num saco só. Em Nárnia chamamos a isso ir
                  de mal a pior. Esse negócio tem de acabar.

                         – Não assumo a responsabilidade por essa medida – disse Gumpas.

                         – Então, muito bem! Está desobrigado de seu encargo. Lorde Bern,
                  venha cá. – E, antes que Gumpas compreendesse o que ia acontecer, Bern
                  ajoelhava-se  como  governador  das  Ilhas  Solitárias,  segundo  os  antigos
                  costumes de Nárnia. E Caspian disse:
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