Page 443 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– A graciosa mocinha e o bonito rapaz? – perguntou Pug, com um
sorriso bajulador. – Ah, já foram levados...
– Estamos aqui, estamos aqui, Caspian – gritaram Lúcia e Edmundo
ao mesmo tempo. – E às suas ordens, Majestade – chiou Ripchip do outro
lado.
Tinham sido todos vendidos, mas os seus “proprietários”
continuavam a dar lances. A multidão afastou-se para deixar passar os três,
e houve grandes apertos de mão e saudações entre eles e Caspian.
Dois comerciantes da Calormânia aproximaram-se imediatamente.
Os calormanos têm rostos escuros e longas barbas. Usam vestes amplas e
turbantes cor-de-laranja e são um povo sábio, rico, cortês, cruel e antigo.
Inclinaram-se polidamente perante Caspian e endereçaram-lhe grandes
saudações, falando em fontes da prosperidade que irrigam o jardim da
prudência e da virtude – e outras coisas desse tipo –, mas o que pretendiam
na verdade era o dinheiro que haviam pago pelos escravos.
– É absolutamente justo, senhores – disse Caspian. – Todos os que
compraram escravos, hoje, têm de receber de volta o dinheiro. Pug,
entregue a eles tudo o que ganhou.
– Vossa Majestade quer levar-me a pedir esmolas na rua da
amargura? – gemeu Pug.
– Você viveu a vida toda à custa de corações despedaçados. Ainda
que peça esmola na rua da amargura, sempre é melhor do que ser escravo.
Mas onde está meu outro amigo?
– Oh, aquele! Leve-o e faça bom proveito. Ainda bem que me livro
dessa droga! Nunca vi nada pior. Já estava pedindo por ele só cinco
crescentes e mesmo assim ninguém queria... Entrou como gratificação em
outros lotes e nem assim... Nem olhavam para ele. Taco, traga aqui o
Resmungão.
Trouxeram Eustáquio, que tinha de fato um ar taciturno, pois, ainda
que ninguém goste de ser vendido como escravo, mais doloroso ainda é não
encontrar comprador. Caminhou ao encontro de Caspian para dizer:
– Estou vendo que, como de costume, você andou por aí se
divertindo, enquanto estávamos prisioneiros. Acho que ainda nem procurou
o cônsul britânico, é claro!
Naquela noite houve uma grande festa no castelo.
– Amanhã vão recomeçar realmente as nossas aventuras! – disse
Ripchip, ao despedir-se de todos para ir deitar-se. Mas não seria no dia
seguinte que partiriam.