Page 448 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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esperto ao servir-se, mas julga que eu não o vejo! Lúcia, não sei por que
                  razão,  quis  reconciliar-se  comigo  e  ofereceu-me  da  ração  dela,  mas  o
                  intrometido  do  Edmundo  não  deixou.  O  sol  está  quentíssimo.  Tive  uma
                  sede horrível a tarde toda.

                         “6 de setembro. Dia pavoroso. Acordei de noite sentindo-me febril e
                  tive de beber um copo de água. Qualquer médico teria me receitado isso.
                  Sabe Deus que eu seria a última pessoa a tentar prejudicar os outros, mas
                  nunca imaginei que o racionamento de água atingisse também um doente.
                  De fato eu devia era ter acordado alguém para pedir-lhe água, mas não quis
                  ser egoísta. Por isso levantei-me na ponta dos pés, peguei o meu copo e saí
                  deste buraco escuro, tendo o máximo cuidado de não incomodar Caspian e
                  Edmundo,  pois  dormem  mal  desde  que  o  calor  e  a  escassez  de  água  se
                  fizeram  sentir.  Tenho  grande  consideração  pelos  outros,  sejam  ou  não
                  amáveis comigo. Fui direto à sala grande, se é que se pode chamar aquilo
                  de sala, onde estão os bancos dos remadores e as bagagens. A água está no
                  lado  de  cá.  Corria  tudo  às  mil  maravilhas,  mas  antes  que  conseguisse
                  encher um copinho de água... quem haveria de me apanhar senão o espião
                  do Rip! Quis explicar-lhe que viera tomar um pouco de ar no convés (a
                  questão da água não era da conta dele), mas me perguntou por que estava
                  de copo na mão. Fez tanto barulho que o navio todo se levantou. Trataram-
                  me  escandalosamente.  Perguntei,  como  qualquer  um  faria,  por  que  o
                  Ripchip andava farejando em volta do barril de água em plena noite. Disse
                  que  era  tão  pequeno  que  não  tinha  qualquer  serventia  no  convés,  e  que
                  tomava  conta  da  água  todas  as  noites  para  que  assim  mais  um  homem
                  pudesse  dormir.  E  agora  torna-se  óbvia  a  tremenda  má  vontade:  todos
                  acreditaram nele. Como se pode lutar contra isso?!

                         “Tive  de  pedir  desculpa  para  que  o  monstrozinho  não  caísse  de
                  espada  em  cima  de  mim.  E  então  Caspian  revelou  toda  a  sua  faceta  de
                  tirano, dizendo alto, para todos ouvirem, que quem fosse



                         apanhado “roubando” água, dali em diante, levaria “duas dúzias”. Eu
                  não sabia o que isso queria dizer, mas Edmundo me explicou. Aparece nos
                  livros que esse tolos vivem lendo.
                         “Depois desta covarde ameaça, Caspian mudou de tom, começando a
                  tomar  uns  ares  protetores.  Disse que tinha  muita  pena de  mim,  mas  que
                  todos se sentiam tão febris quanto eu, que tínhamos de agüentar da melhor

                  maneira possível a situação, etc. Requintado pedante! Fiquei hoje na cama
                  o dia todo!
                         “7 de setembro. Hoje houve um pouco de vento, mas ainda de oeste.
                  Fizemos algumas milhas para leste só com uma parte da vela, colocada em
                  um mastro improvisado que Drinian chama de guindola – o gumpés é posto
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