Page 450 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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uma árvore, de preferência um pinheiro, para fazer um mastro novo, e as
                  velas precisavam ser remendadas.

                         Um  grupo  partiu  à  procura  de  qualquer  caça  que  a  terra  pudesse
                  oferecer. Havia roupa para lavar e coser, e um sem-número de reparações a
                  serem  feitas  a  bordo.  O  próprio  Peregrino  não  era  mais  o  mesmo  navio
                  elegante  que  partira  de  Porto  Estreito.  Parecia  um  casco  velho  e
                  desconjuntado,  um  resto  de  barco.  Os  oficiais  e  a  tripulação  não  tinham
                  melhor  aspecto  –  desfigurados,  pálidos,  esfarrapados,  com  os  olhos
                  avermelhados devido às noites em claro.

                         Quando  Eustáquio,  deitado  sob  uma  árvore,  ouviu  os  planos,  seu
                  sangue gelou. Não iriam então dar uma boa descansada? O dia de repouso
                  em terra, tão desejado, iria ser tão cansativo como os dias no mar. Então
                  ocorreu-lhe  uma  idéia  genial.  Ninguém  estava  olhando.  Falavam  todos
                  sobre o navio, como se gostassem mesmo daquela coisinha. Por que não
                  haveria de dar uma fugida? Dar um passeio pelo interior da ilha, tirar uma
                  soneca  num  lugarzinho  sombreado,  voltando  só  depois  de  terminado  o
                  trabalho dos outros... Bela idéia! Só teria de ter cuidado para não perder de
                  vista a baía e o navio, podendo assim achar o caminho de volta! Não seria
                  nada divertido ficar ali sozinho.

                         Pôs imediatamente seu plano em ação. Levantou-se com muita calma
                  e caminhou por entre as árvores, de um modo natural e lento: se alguém o
                  visse, pensaria que ele estava só dando uma voltinha. Ficou admirado ao
                  ver que o barulho da conversa morria atrás dele e o bosque se tornava logo
                  escuro,  silencioso  e  quente.  Daí  a  pouco  achou  que  já  podia  andar  mais
                  depressa,  deixando  em  breve  o  bosque.  O  terreno  começava  a  ficar
                  íngreme. Com as mãos agarrava-se à relva seca e escorregadia. Apesar de
                  gemer  e  ter  de  limpar  o  suor da  testa,  ia  conseguindo  avançar.  De  certo
                  modo, isso demonstrava que a sua nova vida lhe fazia bem, pois o antigo
                  Eustáquio de Arnaldo e Alberta teria desistido dez minutos depois de ter
                  começado a subir. Parando muitas vezes para descansar, atingiu a crista do
                  monte. Ali esperava ver o interior da ilha, mas as nuvens tinham descido
                  mais  e  estavam  mais  próximas,  misturando-se  com  ondas  de  nevoeiro.
                  Sentou-se e olhou para baixo.

                         Tinha alcançado um ponto tão alto que a baía, lá embaixo, parecia
                  bem pequena, e viam-se milhas e mais milhas de mar em torno. O nevoeiro
                  fechou-se em volta dele, denso, mas não frio. Deitou-se, virando-se para
                  um  lado  e  para  o  outro,  procurando  uma  posição  confortável  para
                  descansar. Mas não por muito tempo, pois, pela primeira vez na sua vida,
                  começou a sentir solidão. A princípio a solidão foi aumentando aos poucos,
                  mas, de repente, ele começou a preocupar-se com as horas. Não se ouvia
                  nada.  Quem  sabe  já  estaria  deitado  havia  várias  horas?  Talvez,  até,  os
                  outros já tivessem partido! Talvez tivessem feito aquilo de propósito, para
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