Page 455 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Senhor Rince – retrucou Ripchip –, jamais em sua vida falou outras
                  palavras  que  tanto  o  inferiorizassem.  A  pessoa  em  questão  não  é  das
                  minhas  relações  amigáveis,  mas,  sendo  do  mesmo  sangue  da  rainha,  e
                  pertencendo  ao  nosso  grupo,  é  nosso  dever  de  honra  encontrá-lo  para
                  vingar a sua morte, se tiver morrido.

                         –  Claro  que  temos  de  encontrá-lo  (se  pudermos)  –  falou  Caspian,
                  aborrecido. – Aí é que está a chateação. Temos de destacar um grupo de
                  homens para procurá-lo e enfrentar uma infinidade de complicações. Mas
                  que sujeito inoportuno, esse Eustáquio.

                         Eustáquio dormia, dormia e tornava a dormir. Só acordou por causa
                  de uma dor no braço. A lua brilhava na boca da caverna, e a cama feita no
                  tesouro parecia muito mais confortável; nem mesmo a sentia.

                         Primeiro ficou intrigado com a dor no braço, mas depois se lembrou
                  do bracelete, que agora estava estranhamente apertado. O braço devia ter
                  inchado enquanto ele dormia (era o braço esquerdo).
                         Começou a mexer o braço direito para ver se sentia o mesmo que no
                  esquerdo, mas estacou, mordendo os lábios de terror, antes de movê-lo um
                  centímetro. Na sua frente, um pouco à direita, num ponto em que o luar
                  batia em cheio no chão da caverna, viu uma forma hedionda. Era uma garra
                  de  dragão.  Tinha-se  movido  quando  ele  mexera  a  mão  e  ficara  quieta
                  quando ele parará.

                         “Fui um completo maluco!”, pensou Eustáquio. “O animal tinha um
                  companheiro, que está deitado aos meus pés.”

                         Durante alguns minutos não ousou mexer um só músculo, e via as
                  duas tênues colunas de fumaça, elevando-se escuras, contra a luz da lua, na
                  frente de seus olhos – o mesmo fumo que saíra do focinho do outro dragão,
                  ao morrer. Era tão aflitivo que suspendeu a respiração. As duas colunas de
                  fumo  desapareceram,  mas,  quando  respirou  de  novo,  o  fumo  reapareceu
                  numa  torrente.  Nem  mesmo  assim  compreendeu  o  que  se  passava.
                  Resolveu virar-se muito sorrateiramente para a esquerda e rastejar para fora
                  da caverna. Talvez o monstro estivesse adormecido. Fosse como fosse, era
                  a única solução. Mas, antes de caminhar para a esquerda, olhou para aquele
                  mesmo lado, e... oh! cúmulo dos horrores! Lá estava uma outra garra de
                  dragão!  Não  se  pode  condenar  Eustáquio  por  ter  começado  a  chorar
                  naquele momento.

                         Ficou  bobo  com  o  tamanho  de  suas  lágrimas,  quando  as  viu  cair
                  sobre o tesouro à sua frente. Pareciam estranhamente quentes e soltavam
                  vapor.
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