Page 454 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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durasse  a  chuva,  não  poderia  sair  do  vale.  Correu  para o  único  abrigo à
                  vista,  a  caverna  do  dragão.  Lá  dentro  deitou-se  e  tentou  acalmar  a
                  respiração.

                         Quase todos nós já sabemos o que se pode encontrar numa toca de
                  dragão,  mas,  como  eu  já  disse,  Eustáquio  só  lera  livros  que  não  servem
                  para nada. Falavam de exportações e importações, de governos e de canos
                  de  esgoto,  mas  eram  muito  fracos em  questão  de  dragões.  Assim,  achou
                  esquisito o chão em que estava deitado. Em certos lugares era demasiado
                  espinhoso  para  ser  de  pedra,  e  em  outros  sentia  uma  porção  de  coisas
                  redondas e lisas, que chocalhavam quando ele se mexia. A luz que entrava
                  pela porta da caverna era suficiente para ver de que se tratava. Qualquer um
                  de nós teria pensado muito antes que ele acabara de descobrir um tesouro.
                  Coroas (era o que picava), moedas, braceletes, barras de ouro, taças, pratas,
                  pedrarias.

                         Eustáquio,  ao  contrário  dos  outros  meninos,  nunca  tinha  pensado
                  muito em tesouros, mas começou logo a imaginar que vantagem poderia
                  tirar daquele mundo no qual caíra tão estupidamente, por causa do quadro
                  do quarto de Lúcia, lá longe, na Inglaterra.

                         – Aqui, ao menos, não cobram impostos; não temos de dar nada ao
                  Estado.  Com  uma  parte  dessa  mercadoria,  passo  uma  boa  temporada  –
                  talvez no país dos calormanos. Acho que é o melhor por aqui. Mas quanto
                  poderei levar? Este bracelete aqui – as pedras nele devem ser diamantes,
                  pensou – ponho logo no pulso. É grande demais, mas acima do cotovelo dá
                  bem. Encho agora os bolsos com diamantes: são mais fáceis de transportar
                  que ouro.
                         Não faço idéia de quando vai passar esta chuva!

                         Ajeitou-se em uma parte do tesouro que lhe parecia mais confortável
                  e ficou à espera. Mas, quando se leva um grande susto, sobretudo um susto
                  daqueles,  fica-se  horrivelmente  cansado.  E  Eustáquio  logo  adormeceu.
                  Enquanto  ressonava  profundamente,  acabavam  os  outros  de  almoçar,  já
                  seriamente alarmados com a sua ausência. Gritavam:

                         – Eustáquio! Eustáquio!

                         Quando ficaram roucos, Caspian fez soar a trompa.

                         – Se estivesse perto, já teria ouvido – disse Lúcia, branca como cera.
                         – Que sujeito idiota! – exclamou Edmundo. – Por que foi tão longe?

                         – Temos de fazer alguma coisa – falou Lúcia. – Pode ter-se perdido,
                  ou caído num barranco, ou ter sido apanhado por selvagens.

                         – Ou devorado por animais ferozes – disse Drinian.

                         – Até que não era má idéia – murmurou Rince.
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