Page 458 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 458

– Temos de ter muita coragem – respondeu Caspian. – Agora mesmo
                  um dragão voou sobre as árvores e foi pousar na praia. Temo que esteja
                  entre nós e o navio. As setas nada valem contra dragões, e eles não têm o
                  menor medo do fogo.

                         – Se Vossa Majestade me permite... – começou Ripchip.

                         – Não, Rip – disse o rei com firmeza. – Você não vai travar combate
                  com  ele.  E,  se  não  prometer  solenemente  obedecer-me,  terei  de  mandar
                  amarrá-lo. Temos de ficar vigilantes e, mal nasça o dia, vamos atacá-lo na
                  praia. Eu assumo o comando. O rei Edmundo fica à minha direita e Drinian
                  à  esquerda.  Daqui  a  uma  hora  comemos  alguma  coisa  e  bebemos  o  que
                  resta do vinho. E que tudo se faça no maior silêncio.

                         – Talvez ele vá embora – disse Lúcia.
                         – Seria ainda pior – respondeu Edmundo – por que não saberíamos
                  mais  onde  está.  Quando  um  marimbondo  entra  no  meu  quarto,  gosto  de
                  saber onde ele está.

                         O resto da noite foi horrível. Na hora de comer, a maioria não teve
                  apetite. As horas pareceram intermináveis, até que a escuridão diminuiu e
                  os passarinhos começaram a chilrear e a saltar nos ramos. O ar ficou mais
                  frio e úmido. Caspian disse:

                         – Vamos a ele, amigos!

                         Levantaram-se  todos  com  as  espadas  desembainhadas  e  formaram
                  uma massa compacta, com Lúcia no centro, levando Ripchip ao ombro. Era
                  preferível lutar a ficar esperando. Sentiam-se todos mais amigos uns dos
                  outros do que em circunstâncias normais.

                         Já estava mais claro quando chegaram à orla da floresta. Deitado na
                  areia,  enorme,  pavoroso  e  corcunda,  lá  estava  o  dragão  como  um
                  gigantesco crocodilo flexível ou uma serpente com pernas.
                         Mas quando os viu, em vez de se levantar e lançar chamas e fumo,
                  recuou  (quase  que  se  poderia  dizer  cambaleando)  em  direção  às  águas
                  pouco profundas da baía.

                         – Para que ele está abanando a cabeça? – perguntou Edmundo.

                         – E agora está fazendo sinais – disse Caspian.

                         – Tem uma coisa saindo dos olhos dele – disse Drinian.
                         – Não está vendo? – disse Lúcia. – São lágrimas. Está chorando.

                         –  Não  se  fie  nisso,  minha  senhora.  Os  crocodilos  também  choram
                  para apanhar os incautos – observou Drinian.
   453   454   455   456   457   458   459   460   461   462   463