Page 452 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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AS AVENTURAS DE EUSTÁQUIO
Naquele mesmo instante os outros lavavam o rosto e as mãos no rio,
preparando-se para comer e descansar. Os três melhores arqueiros tinham
subido a montanha na parte norte da baía e voltaram com duas cabras
selvagens, que agora estavam sendo assadas no fogo. Caspian mandou
buscar um tonel de vinho, vinho forte, que tinha de ser misturado com
água, e assim daria para todos. O trabalho ia em bom andamento e a
refeição decorria animada. Só depois de servir-se de carne pela segunda
vez, Edmundo perguntou por Eustáquio.
Enquanto isso, Eustáquio olhava ao redor, no vale desconhecido. Era
tão estreito e profundo, e os precipícios em volta tão a pique, que mais
parecia uma fossa enorme. O chão era relvado, apesar de semeado de
pedras. Aqui e ali viam-se trechos de terreno negro e queimado, como se
costuma ver em verões muito quentes nos vaiados de estradas de ferro.
Cerca de quinze metros mais longe havia uma lagoazinha de águas claras e
mansas. A princípio nada mais havia no vale, nem um animal, nem mesmo
um inseto. O sol descia, projetando na orla do vale as sombras de picos
medonhos.
Eustáquio viu logo que, com o nevoeiro, tinha descido o desfiladeiro
pelo lado errado, por isso voltou-se imediatamente para ver como havia de
sair dali. Mas, ao olhar, estremeceu. Ao que parecia, tivera uma sorte
espantosa ao descer pelo único caminho existente – uma comprida língua
de terra, muito íngreme e estreita, com precipícios dos dois lados. Não
havia nenhum outro caminho para voltar. Como subir, no entanto, agora
que sabia como era o caminho? Ficava zonzo só de pensar nele.
Voltou-se de novo, achando que de qualquer modo era melhor beber
primeiro um bom gole de água da lagoa. Mal se voltou, antes de dar o
primeiro passo, ouviu um barulho. Era um ruído leve, mas soou muito alto
naquele silêncio enorme. Durante um segundo ficou feito um morto, frio e
paralisado. Depois virou a cabeça e olhou.
Na base do rochedo, havia um buraco baixo e escuro – talvez a
entrada de uma caverna. Lá de dentro saíam duas finas colunas de fumaça.
As pedras soltas à entrada do buraco moviam-se (era o tal barulho) como se
alguma coisa rastejasse no escuro atrás delas.