Page 449 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 449
na vertical e amarrado ao toco do verdadeiro mastro. Continuo morrendo
de sede.
“8 de setembro. Continuamos navegando para leste. Passo agora o
dia todo no meu buraco e não vejo ninguém, a não ser Lúcia, até que os
dois diabos vão dormir. Lúcia deu-me um pouco da sua ração de água.
Disse que as meninas não sentem tanta sede quanto os meninos. Já sabia
disso, mas os outros a bordo também deviam saber.
“9 de setembro. Terra à vista: uma montanha muito alta, lá longe a
sudoeste.
“20 de setembro. A montanha está maior e mais nítida, mas ainda
muito longe. Pela primeira vez, já não sei há quanto tempo, hoje vimos
gaivotas.
“2 2 de setembro. Pegamos uns peixes, comidos no jantar. Lançamos
âncora às sete da noite numa baía desta ilha montanhosa. O idiota do
Caspian não nos deixou ir a terra porque já estava escurecendo e tinha
medo de selvagens e animais ferozes. Tivemos esta noite uma ração extra
de água.”
O que iria acontecer na ilha dizia mais respeito a Eustáquio do que a
qualquer outro, mas não podemos sabê-lo por suas palavras, pois a partir de
11 de setembro não escreveu mais no diário.
Certa manhã, muito quente, com um céu pesado e cinzento, os
aventureiros se achavam em uma baía rodeada de rochas e penedos,
lembrando um fiorde norueguês. Em frente da baía elevava-se um terreno
cheio de árvores frondosas, parecendo cedros, no centro das quais se
precipitava uma impetuosa corrente.
O bosque estendia-se por uma ladeira íngreme, indo terminar numa
cordilheira denteada, através da qual se vislumbrava ao longe a indecisa
escuridão de montanhas, cujos cimos desapareciam no meio de nuvens
baças. As rochas mais próximas estavam riscadas aqui e ali de fitas
brancas, que todos sabiam ser quedas-d’água, mas que, àquela distância,
pareciam imóveis, sem fazer qualquer ruído. A água lisa como vidro
refletia o perfil das rochas. Numa pintura a paisagem poderia ser bonita,
mas na vida real era opressiva. Aquela terra não acolhia os visitantes de
braços abertos.
A tripulação desembarcou toda em dois botes, indo lavar-se e beber,
deliciada, a água do rio. Depois comeram e descansaram, tendo Caspian
mandado para bordo quatro homens para guardarem o navio. Só então
começaram os trabalhos do dia. Tinham de trazer os barris para terra,
consertá-los, se possível, e tornar a enchê-los de água. Era preciso derrubar