Page 418 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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mergulho.
Tratava Edmundo e Lúcia por majestades, porque estes, como Pedro
e Susana, haviam sido, muito tempo atrás, reis e rainhas em Nárnia. O
tempo em Nárnia não corre como em nosso mundo. Mesmo que passemos
cem anos em Nárnia, voltamos ao nosso mundo exatamente no mesmo dia
e na mesma hora em que partimos. Mas, se quisermos voltar a Nárnia
depois de termos passado uma semana aqui, podem já ter se passado mil
anos em Nárnia, ou um dia só, ou até não ter passado tempo algum. Só
quando se chega lá é que se sabe quanto tempo se passou. Assim, quando
os Pevensie haviam estado em Nárnia pela última vez, na segunda visita,
era para os habitantes de Nárnia como se o rei Artur tivesse voltado à Grã-
Bretanha, como se diz que há de voltar. E eu digo que o quanto antes
melhor!
Rinelfo apareceu com o vinho aromático, fumegando num jarro, e
quatro taças de prata. Era justamente disso que precisavam. À medida que
Lúcia e Edmundo iam bebendo, sentiam o calor percorrer-lhes todo o
corpo. Eustáquio é que começou a fazer caretas e engasgar-se, lançando
tudo fora e ficando ainda mais enjoado. Recomeçou a chorar e a pedir que
lhe dessem um chá feito com água potável. Ou que o desembarcassem no
porto mais próximo.
– Que companheiro de viagem mais gozado você nos trouxe! –
murmurou Caspian para Edmundo, rindo-se disfarçadamente.
Porém, Eustáquio irrompeu de novo:
– Opa, Hã... Que troço é aquele? Tirem daqui essa coisa horrorosa!
Aí ele tinha certa razão de mostrar espanto: da cabine da popa saíra
um ser muito curioso, que se aproximava deles devagar. Podia-se dizer que
era um rato, e era realmente. Mas um rato com cerca de sessenta
centímetros de altura, caminhando apoiado nas patas traseiras. Atada à
cabeça, por baixo de uma orelha e por cima de outra, exibia uma fina fita
dourada na qual se prendia uma pena vermelha. Como a pele do rato era
muito escura, quase negra, o efeito era impressionante. Apoiava a pata
esquerda no punho de uma espada quase tão comprida quanto sua cauda.
Seu equilíbrio, ao caminhar solenemente ao longo do convés que
balançava, era perfeito, e seus modos revelavam que estava habituado à
corte. Lúcia e Edmundo viram logo quem era. Era Ripchip, o mais valente
de todos os animais falantes de Nárnia, o rato-chefe, que ganhara glória
imorredoura na segunda batalha de Beruna. Lúcia sentiu uma vontade
enorme, como sempre lhe acontecia, de pegar Ripchip no colo e acariciá-lo.
Mas sabia muito bem que nunca poderia satisfazer essa vontade, pois ele
ficaria profundamente ofendido. Em vez disso, ajoelhou-se para conversar
com ele.