Page 413 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                         Era uma vez um garoto chamado Eustáquio Clarêncio Mísero, e na
                  verdade bem merecia esse nome. Os pais diziam Eustáquio Clarêncio, e os
                  professores,  apenas  Mísero.  Não  posso  dizer  como  era  chamado  pelos
                  amigos,  pois  não  tinha  amigos.  Não  tratava  o  pai  e  a  mãe  por  papai  e
                  mamãe, mas por Arnaldo e Alberta. Os pais eram gente moderna, de idéias
                  abertas. Vegetarianos, não fumavam nem bebiam, e usavam roupa de baixo
                  de  fabricação  especial.  Havia  muito  pouca  mobília  em  sua  casa,
                  pouquíssima roupa de cama e mantinham sempre as janelas escancaradas.

                         Eustáquio  gostava  de  animais,  especialmente  de  besouros  quando
                  estavam  mortos  e  espetados  num  cartão.  Também  gostava  de  livros
                  instrutivos,  com  gravuras  em  que  se  podiam  ver  armazéns  para  guardar
                  cereais  ou  robustas  crianças  estrangeiras  fazendo  ginástica  em  escolas-
                  modelo.

                         Eustáquio  não  gostava  nada  mesmo  era  dos  primos,  os  quatro
                  Pevensie:  Pedro,  Susana,  Edmundo  e  Lúcia.  Mas  ficou  contentíssimo
                  quando soube que Edmundo e Lúcia vinham passar uns tempos com ele,
                  pois lá no fundo adorava bancar o mandão e chatear os outros. Apesar de
                  ser um molengão, que na hora da briga não conseguia nem enfrentar Lúcia,
                  e  muito  menos  Edmundo,  sabia  que  há  muitas  maneiras  de  aborrecer  os
                  outros, quando a casa é da gente e eles são nossos hóspedes.
                         Edmundo e Lúcia também não sentiam a menor vontade de ir para a
                  casa  do  tio  Arnaldo  e  da  tia  Alberta,  mas  não  tinham  outro  remédio.
                  Naquele  verão,  o  pai  arranjara  uma  vaga  como  professor  nos  Estados
                  Unidos, durante quatro meses, e a mãe resolvera ir com ele.

                         Pedro,  que  tinha  de  preparar-se  com  todo  o  afinco  para  o  exame,
                  passaria as férias recebendo aulas do velho professor Kirke, em cuja casa as
                  quatro crianças tinham tido aventuras maravilhosas, já havia muitos anos,
                  na  época  da  guerra.  Se  o  professor  ainda  morasse  na  mesma  casa,  os
                  garotos teriam ido para lá; mas, depois daquela época, ele perdera tudo o
                  que tinha e vivia agora num chalé, com apenas um quarto vago.
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