Page 534 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Fortalecidos pelas águas do Mar Derradeiro, agora podiam fitar o sol
                  nascente e distinguir coisas além dele. A oriente, além do sol, viam uma
                  cadeia de montanhas, tão altas que seus cumes não eram visíveis. Deviam
                  normalmente  estar  cobertas  de  gelo,  mas  eram  verdes  e  quentes,  com
                  cascatas e florestas.

                         De súbito soprou uma brisa, franjando de espuma o alto da onda e
                  enrugando a quietude das águas. Durou um segundo só, mas nenhuma das
                  crianças jamais se esqueceu. Trouxe-lhes ao mesmo tempo um aroma e um
                  som musical. Edmundo e Eustáquio nunca mais quiseram tocar no assunto.
                  Lúcia apenas podia articular:

                         – Era de cortar o coração.

                         – Por quê? – perguntei eu. – Era assim tão triste?
                         – Triste nada!

                         Nenhum dos que se encontravam no bote duvidava de estar vendo,
                  além do Fim do Mundo, a terra de Aslam.

                         No  mesmo  momento,  com  um  ruído  cavo,  o  bote  encalhou.  Não
                  havia fundura suficiente.

                         – Daqui em diante – falou Ripchip – continuo sozinho.

                         Nem sequer tentaram impedi-lo, pois sentiam que parecia estar tudo
                  destinado de antemão ou que já acontecera anteriormente. Ajudaram-no a
                  descer o bote pequenino. Então, puxou a espada:
                         – Não preciso mais dela! – E lançou-a para o mar de lírios. Ao cair,
                  ficou virada para cima, com o punho aparecendo sobre a água. Despediu-se
                  deles,  tentando  parecer  triste,  mas  estremecia  de  felicidade.  Lúcia,  pela
                  primeira  e  última  vez,  fez  o  que  sempre  desejou  fazer:  tomou  Rip  nos
                  braços e o acariciou. Depois, depressa, o rato pulou para o botezinho e saiu
                  remando, ajudado pela corrente, muito escuro entre o branco dos lírios. O
                  bote foi andando cada vez mais rápido, até que entrou triunfalmente por
                  uma onda. Durante um escasso segundo viram Ripchip no topo da onda,
                  depois desapareceu. Desde então ninguém mais ouviu nada sobre Ripchip,
                  o Rato. Acredito que tenha chegado são e salvo ao país de Aslam e que lá
                  vive até hoje.

                         Quando  o  sol  nasceu,  desvaneceu-se  a  visão  das  montanhas.  As
                  crianças saíram do bote e começaram a patinhar para o sul, com a parede de
                  água à esquerda. Não sabiam por que fizeram assim; era o destino. Apesar
                  de  a  bordo  do  Peregrino  se  sentirem  muito  crescidos,  agora  tinham  a
                  sensação contrária e davam-se as mãos entre os lírios.

                         Nunca se sentiram tão cansados. A água estava morna e era cada vez
                  menos funda. Por fim, caminhavam na areia e depois na relva – por uma
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