Page 531 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O mar parecia o Ártico e, se os olhos não tivessem se tornado tão
                  agudos  como  os  das  águias,  seria  impossível  suportar  a  visão  daquela
                  brancura, especialmente de manhã cedo. E a brancura, às tardes, fazia durar
                  mais a luz do dia. Os lírios pareciam não ter fim. Dias e dias, elevava-se
                  daquelas  léguas  de  flores  um  odor  que  Lúcia  achava  quase  impossível
                  descrever: doce, sim, mas não estonteante, nem extremamente perfumado,
                  um  odor  fresco,  selvagem,  solitário.  Parecia  entrar  no  cérebro  e  dar  a
                  sensação de que se pode galgar montanhas ou brigar com elefantes. Dizia:

                         – Sinto que não posso mais agüentar isso e, no entanto, não quero
                  que acabe.

                         Fizeram muitas sondagens, mas só alguns dias mais tarde a água se
                  tornou menos funda. A profundidade foi então diminuindo. Até que um dia
                  tiveram de sair da corrente e avançar a passo de caracol para sondarem o
                  caminho  por  onde  seguiam.  Tornou-se  claro  que  o  Peregrino  não  podia
                  navegar mais para o Oriente, e só devido a manobras hábeis conseguiram
                  evitar que encalhasse.

                         – Desçam o bote – gritou Caspian. – Depois chamem os homens cá
                  para cima.
                         – Que vai fazer? – perguntou Eustáquio a Edmundo em voz baixa. –
                  Ele está com uma expressão esquisita.

                         –  Acho  que  estamos  todos  com  a  mesma  expressão  –  respondeu
                  Edmundo.

                         Juntaram-se a Caspian na popa, e toda a tripulação reuniu-se na base
                  da escada para ouvir a palavra do rei.

                         –  Amigos  –  disse  Caspian.  –  Chegamos  ao  fim  da  nossa  missão.
                  Encontramos  os  sete  fidalgos  e,  como  Sir  Ripchip  jurou não voltar,  sem
                  dúvida que acharão acordados os fidalgos da ilha de Ramandu. Entrego-
                  lhe, lorde Drinian, este navio, com a recomendação de navegarem com a
                  maior velocidade possível para Nárnia e de não pararem na Ilha da Água da
                  Morte.  Recomende  a  Trumpkin,  meu  regente,  que  dê  a  todos  os  meus
                  companheiros  de  viagem  as  recompensas  que  lhes  prometi.  São  bem
                  merecidas. Se eu nunca mais voltar, é meu desejo que o regente, o Mestre
                  Cornelius, Caça-trufas, o Texugo, e o lorde Drinian escolham um rei para
                  Nárnia.

                         – Senhor – interrompeu Drinian –, vai abdicar?
                         – Vou com Ripchip ver o Fim do Mundo.

                         Um murmúrio abafado de desagrado brotou entre os marinheiros.

                         –  Levaremos  o  bote  –  disse  Caspian.  –  Não  precisam  dele  nestes
                  mares tão calmos e podem fazer outro na terra de Ramandu.
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