Page 526 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Na verdade, Drinian gostava de Ripchip. Por isso estava tão aflito, e,
                  quando  ficava  aflito,  enchia-se  de  mau  humor.  Sua  mãe  também  se
                  zangaria mais com você do que com um estranho, se você pulasse na frente
                  de  um  carro.  Ninguém  tinha  medo  que  Ripchip  se  afogasse,  pois  era
                  excelente  nadador,  mas  as  três  pessoas  a  bordo  que  sabiam  o  que  se
                  passava dentro da água temiam as lanças cruéis nas mãos do Povo do Mar.

                         O  Peregrino  deu  uma  volta  e  eles  viram  uma  trouxinha  escura  na
                  água: era Ripchip. Falava com grande excitação, mas como estava com a
                  boca cheia d’água ninguém entendia o que dizia.

                         – Vai botar a boca no mundo, se não o fizer

                         mos calar – disse Drinian.
                         Para evitar isso, correu para o lado e baixou ele mesmo uma corda,
                  gritando para os marinheiros:

                         –  Tudo  bem,  todos  nos  seus  lugares.  Posso  puxar  um  rato  sem
                  precisar  de  ajuda.  –  E  quando  Ripchip  começou  a  subir  pela  corda,  não
                  muito  agilmente  porque  o  pêlo  molhado  o  fazia  mais  pesado,  Drinian
                  inclinou-se e sussurrou-lhe:

                         – Nem uma palavra!

                         Mas ao chegar ao convés todo encharcado o rato não parecia nem um
                  pouco interessado no Povo do Mar.

                         – Doce – guinchou –, doce, doce!
                         – Doce, o quê? – perguntou Drinian, desconfiado. – E não precisa
                  sacudir-se em cima de mim.

                         – Estou dizendo que a água é doce. Não tem sal.

                         Por  um  momento  ninguém  atentou  para  a  importância  disso.  Rip
                  então repetiu a velha profecia: onde o céu e o mar se encontram, onde as
                  ondas se adoçam.

                         – Um balde, Rinelfo – gritou Drinian.
                         O balde foi descido até a água e puxado de novo. A água brilhava lá
                  dentro como vidro.

                         –  Talvez  Sua  Majestade  queira  ser  o  primeiro  a  provar  –  disse
                  Drinian a Caspian.

                         O rei tomou o balde nas duas mãos, bebeu profundamente e levantou
                  a cabeça com o rosto transformado. Todo ele parecia mais brilhante.

                         – É doce. Esta é a verdadeira água. Tenho certeza de que não mata,
                  mas escolheria a morte se soubesse que matava.
                         – O que você quer dizer? – espantou-se Edmundo.
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