Page 527 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– É mais transparente do que tudo que existe – disse Caspian.

                         –  Perfeito!  –  disse Ripchip.  –  Água potável.  Devemos  estar  muito
                  próximos do Fim do Mundo agora.

                         Houve um instante de silêncio. Depois Lúcia ajoelhou-se no convés e
                  bebeu do balde.

                         – E a água mais sensacional que já bebi na vida
                         –  disse,  com  um  suspiro.  –  Mata  a  sede  e  tira  a  fome.  Não
                  precisaremos comer mais nada.

                         E todos a bordo beberam. Sentiram-se tão bem e tão fortes que quase
                  não agüentavam a sensação. E então começaram a sentir um outro efeito.

                         Desde que tinham deixado a ilha de Ramandu, sempre houvera luz
                  em demasia, como já disse. O sol era enorme (mas não muito quente); o
                  mar, incrivelmente brilhante; o ar, de uma resplandecência que ofuscava. A
                  luz  não  diminuíra  -até  aumentara,  se  possível  –,  mas  eles  conseguiam
                  suportá-la. Olhavam de cara para o sol, sem pes-tanejar. O convés, a vela,
                  suas próprias faces e corpos, tudo resplandecia. Até as cordas iam ficando
                  mais  brilhantes.  Na  manhã  seguinte,  quando  o  sol  nasceu,  cinco  ou  seis
                  vezes  maior,  olharam-no  fixamente  e  distinguiram  até  as  penas  das  aves
                  que saíam dele voando.

                         Durante  o  dia,  quase  ninguém  falou.  Só  na  hora  do  jantar  (que
                  ninguém quis, pois a água bastava como alimento) Drinian disse:

                         – Não estou entendendo. Não há um sopro de vento, e a vela está
                  caída como morta. O mar está liso como um lago. No entanto, navegamos
                  tão depressa como se estivéssemos dentro de um furacão.
                         – Também notei isso – falou Caspian. – Pelo jeito fomos apanhados
                  por uma forte corrente.

                         –  Hum!  –  fez  Edmundo.  –  Não  é  lá  muito  agradável  saber  que  o
                  mundo tem uma orla e que estamos chegando perto dela.

                         – Você quer dizer – perguntou Caspian – que corremos o risco de ser
                  jogados para fora?

                         –  É,  é – gritou  Rip,  batendo  as patas  uma  na outra. –  Exatamente
                  como imaginei: o mundo é uma grande mesa redonda, e as águas de todos
                  os  oceanos  vão  caindo  da  borda  da  mesa.  O  navio  ficará  suspenso  um
                  momento  na  orla  da  Terra  e,  depois,  sempre  para  baixo,  para  baixo,  a
                  queda, a velocidade...
                         – E o que você acha que estará esperando por nós lá no fundo? –

                  indagou Drinian.
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