Page 652 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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brancas balouçavam como plantas aquáticas. Todos os três choraram. Até o
                  Leão chorou: enormes lágrimas de leão, e cada lágrima era mais preciosa
                  que toda a Terra, ainda que esta fosse um imenso diamante. E Jill observou
                  que Eustáquio não parecia um menino chorão, mas um homem ferido de
                  dor adulta. Ali, naquela montanha, as pessoas não pareciam ter uma idade
                  determinada.

                         – Filho de Adão – disse Aslam –, vá até aquele matagal e traga para
                  mim o espinho que por lá encontrar.

                         Eustáquio obedeceu. O espinho tinha três palmos de comprimento e
                  espetava como um punhal.

                         – Enfie este espinho em minha pata, Filho de Adão – disse Aslam,
                  estendendo uma pata dianteira para Eustáquio.
                         – Devo mesmo fazer isso? – perguntou o menino.

                         – Sim – respondeu Aslam.

                         Eustáquio apertou os dentes e enfiou o espinho na pata do Leão, de
                  onde correu uma grande gota de sangue, mais vermelha do que se possa
                  imaginar. E a gota correu e espalhou-se no riacho sobre o corpo do rei. E
                  este  começou  a  transformar-se:  a  barba  branca  ficou  cinzenta,  depois
                  amarela,  depois  mais  curta  e  desapareceu;  as  faces  encovadas  tomaram
                  cores e formas; as rugas alisaram-se; os olhos abriram-se; olhos e lábios
                  sorriram; de repente, o rei ergueu-se, ficando em pé perto deles. Era um
                  homem  muito jovem, talvez um rapaz. (Não se podia dizer com certeza,
                  pois as pessoas não têm uma idade precisa no país de Aslam.) O rei passou
                  os  braços  em  torno  do  pescoço  de  Aslam,  dando-lhe  beijos  viris  de  rei,
                  respondidos com beijos agrestes de leão.

                         Por  fim  Caspian  voltou-se  para  os  outros,  rindo-se  com  espantada
                  alegria:

                         – Eustáquio! Eustáquio! Quer dizer que você conseguiu alcançar o
                  fim do mundo! Que aconteceu com a minha espada que você quebrou na
                  Serpente do Mar?
                         Eustáquio deu uns passos na direção dele, as duas mãos estendidas,
                  recuando logo com uma expressão perturbada.

                         – Olhe aqui – gaguejou o menino. – Está tudo muito bem, mas... é
                  você mesmo? Quero dizer...

                         – Não seja tolo – falou Caspian.

                         – Mas – prosseguiu Eustáquio, olhando para Aslam – ele afinal não...
                  morreu?
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