Page 653 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Morreu  –  respondeu  o  Leão  tranqüilamente,  quase  como  se
                  estivesse  satisfeito  (foi  o  que  Jill  achou).  –  Ele  morreu.  Isso  acontece
                  muito,  como  você  deve  saber.  Até  eu  morri.  Há  muitos  poucos  que  não
                  morreram.

                         – Ah – disse Caspian –, estou entendendo: você está pensando que eu
                  sou um fantasma ou outro absurdo qualquer. Mas pense melhor: eu seria
                  um  fantasma  em  Nárnia,  pois  de  Nárnia  não  sou  mais.  Mas  ninguém  é
                  fantasma em sua própria terra. No seu mundo eu seria um fantasma. Será?
                  Já que estão aqui, talvez aquele mundo também não seja mais de vocês.

                         Uma grande esperança alvoroçou o coração das crianças. Mas Aslam
                  balançou a cabeça felpuda.

                         – Não, meus queridos. Quando me encontrarem aqui outra vez, então
                  ficarão. Agora, não. Precisam voltar ao mundo de vocês por algum tempo.
                         – Senhor – disse Caspian –, sempre quis dar uma espiada naquele
                  mundo. Estarei errado?

                         – Você não pode mais querer nada de errado, agora que morreu, meu
                  filho  –  foi  a  resposta  de  Aslam.  –  Poderá  espiar  o  mundo  deles  durante
                  cinco minutos – cinco minutos do tempo deles.

                         Aslam então explicou a Caspian que Jill e Eustáquio iriam de volta
                  para o Colégio Experimental, que ele parecia conhecer tão bem quanto eles.

                         – Minha filha – disse Aslam para Jill –, apanhe um galho daquela
                  moita.

                         Na  mão de Jill a vara transformou-se logo num bonito chicotinho.
                  Aslam prosseguiu.
                         –  Agora,  Filhos  de  Adão,  saquem  as  espadas,  mas  não  usem  as
                  pontas, pois eu os envio para a companhia de crianças e covardes, não para
                  enfrentar guerreiros.

                         – Vem com a gente? – perguntou Jill a Aslam.

                         – Eles me verão apenas de costas – respondeu o Leão.

                         Foram  conduzidos  pelo  bosque  e,  pouco  depois,  encontravam-se
                  diante do muro do Colégio Experimental. Aslam rugiu fazendo com que o
                  sol tremesse no céu; um pedaço de muro caiu, abrindo uma brecha. Podiam
                  ver a alameda da escola e o telhado do ginásio, sempre sob o mesmo sol
                  tristonho de outono.
                         Aslam virou-se para Jill e Eustáquio, soprou-lhes no rosto e passou-
                  lhes a língua na testa. Depois deitou-se na brecha que havia feito no muro,

                  dando as costas para a Inglaterra e dirigindo o olhar senhoril no sentido de
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