Page 649 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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de  uma  coisa  muito  séria  convidar  um  centauro  para  passar  o  fim  de
                  semana com a gente.

                         Ouviu-se nesse momento um barulho de cascos a ressoar nas pedras.
                  As crianças olharam. Os dois centauros (um de barba negra, outro de barba
                  dourada) estavam a esperá-los na boca da gruta. Muito educadamente, as
                  crianças terminaram depressa a refeição.

                         Um centauro não é nada engraçado quando à nossa frente. É solene,
                  majestoso, deixando transparecer toda a sabedoria antiga que aprendeu das
                  estrelas. Não se alegra nem se irrita facilmente. Mas, quando se enfurece,
                  sua raiva é tão terrível quanto um maremoto.

                         – Adeus, querido Brejeiro – disse Jill, aproximando-se da cama do
                  paulama. – Desculpe-me por tê-lo chamado de pé-frio.
                         – Eu também peço desculpas – falou Eustáquio. – Você foi o maior
                  amigo do mundo.

                         – Espero encontrá-lo de novo um dia – acrescentou Jill.

                         – Não creio muito nisso – replicou Brejeiro. – Acho que nem mesmo
                  a minha cabana vou encontrar de novo. E o príncipe – um ótimo sujeito,
                  mas  vocês  acham  que  ele  vai  resistir?  Viver  debaixo  da  terra  estraga  a
                  melhor saúde. Claro. O príncipe não pode durar muito.

                         – Brejeiro! – disse Jill –, você no fundo é um conversa-fiada. Apesar
                  dessa cara de enterro, tenho certeza de que se sente maravilhosamente bem.
                  Além  do  mais,  fala  como  se  tivesse  medo  de  tudo,  mas  na  verdade  é
                  valente como... como um leão.

                         – Por falar em cara de enterro... – começou a dizer Brejeiro, mas Jill,
                  para  surpresa  dele,  deu-lhe  um  beijo  na  face  cor-de-barro,  enquanto
                  Eustáquio apertou-lhe a mão.
                         Em  seguida,  as  crianças  correram  para  os  centauros,  e  o  paulama
                  afundou-se  de  novo  na  cama,  dizendo  para  si  mesmo:  “Nunca  poderia
                  imaginar que ela me desse um beijo. Por mais simpático que eu seja.”

                         Montar  um  centauro  é  mesmo  uma  grande  honra  (concedida
                  provavelmente só aos dois desde que o mundo é mundo), mas não é nada
                  confortável.  Pois  ninguém  com  amor  à  vida  iria  insinuar  que  um  arreio
                  tornaria a coisa melhor; e montar em pêlo não é fácil, especialmente (como
                  no caso de Eustáquio) quando a pessoa nunca aprendeu a montar.

                         Os  centauros  foram  muito  gentis,  apesar  de  graves;  enquanto
                  trotavam pelas terras de Nárnia, conversaram com as crianças, sem voltar
                  as  cabeças,  discorrendo  sobre  as  propriedades  de  ervas  e  raízes,  sobre  a
                  influência dos astros, sobre os nove nomes de Aslam e seus significados, e
                  outras  coisas  desse  gênero.  Apesar  de  sacolejados  e  doloridos,  Jill  e
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