Page 647 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                                  REMATE DE MALES






                         Ao acordar no dia seguinte numa gruta, Jill passou por um momento
                  horrível, pensando que estava novamente no Submundo. Ao perceber que
                  se achava deitada num leito de relva coberta por um manto de pele, ao dar
                  com o fogo crepitante (recentemente aceso) numa lareira de pedra, e vendo
                  mais adiante a luz da manhã entrando pela boca da gruta, recordou-se da
                  venturosa verdade.

                         Fora deliciosa a ceia, apesar de todo o sono que sentira antes que ela
                  terminasse.  Tinha  a  vaga  impressão  de  anões  defronte  do  fogo  com
                  frigideiras quase maiores do que eles, do chiado e do aroma delicioso de
                  salsichas, e mais salsichas, e mais salsichas. Não salsichas mixurucas, com
                  um  pedacinho  de  pão  e  molho  de  soja,  mas  salsichas  legais,  suculentas,
                  temperadas, estourando de gordas, só ligeiramente tostadas. E canecões de
                  chocolate espumoso, batatas e castanhas assadas, maçãs de forno recheadas
                  com passas; e, depois de tudo, os sorvetes que refrescavam.

                         Sentou-se e olhou em torno. Brejeiro e Eustáquio estavam deitados a
                  pouca distância, ambos a dormir profundamente.
                         – Vocês dois aí! – gritou a menina. – Vão ficar dormindo o resto do
                  dia?

                         – Psiu! Psiu! – murmurou uma voz de algum lugar em cima dela. –
                  Hora de dormir. Tire uma soneca. Não vai fazer turru. Turru!

                         – Só pode ser – disse Jill, distinguindo um monte de penas brancas e
                  fofinhas em cima de um velho relógio –, só pode ser Plumalume!

                         – Turru, turru! — concordou a coruja, espichando a cabeça para fora
                  da asa e abrindo um olho. – Trouxe uma  mensagem para o príncipe. Os
                  esquilos nos levaram a grande notícia. Mensagem para o príncipe. Ele já
                  partiu.  Vocês  também  devem  partir.  Bom  dia...  –  e  a  cabeça  da  coruja
                  desapareceu.

                         Como, pelo jeito, não seria possível arrancar qualquer informação da
                  coruja, Jill levantou-se e começou a procurar um modo de lavar o rosto e
                  comer alguma coisa. Quase no mesmo instante um pequeno fauno entrou
                  trotando  na  caverna,  fazendo  clique-claque  com  seus  cascos  de  bode  no
                  chão de pedra.
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