Page 647 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 647
16
REMATE DE MALES
Ao acordar no dia seguinte numa gruta, Jill passou por um momento
horrível, pensando que estava novamente no Submundo. Ao perceber que
se achava deitada num leito de relva coberta por um manto de pele, ao dar
com o fogo crepitante (recentemente aceso) numa lareira de pedra, e vendo
mais adiante a luz da manhã entrando pela boca da gruta, recordou-se da
venturosa verdade.
Fora deliciosa a ceia, apesar de todo o sono que sentira antes que ela
terminasse. Tinha a vaga impressão de anões defronte do fogo com
frigideiras quase maiores do que eles, do chiado e do aroma delicioso de
salsichas, e mais salsichas, e mais salsichas. Não salsichas mixurucas, com
um pedacinho de pão e molho de soja, mas salsichas legais, suculentas,
temperadas, estourando de gordas, só ligeiramente tostadas. E canecões de
chocolate espumoso, batatas e castanhas assadas, maçãs de forno recheadas
com passas; e, depois de tudo, os sorvetes que refrescavam.
Sentou-se e olhou em torno. Brejeiro e Eustáquio estavam deitados a
pouca distância, ambos a dormir profundamente.
– Vocês dois aí! – gritou a menina. – Vão ficar dormindo o resto do
dia?
– Psiu! Psiu! – murmurou uma voz de algum lugar em cima dela. –
Hora de dormir. Tire uma soneca. Não vai fazer turru. Turru!
– Só pode ser – disse Jill, distinguindo um monte de penas brancas e
fofinhas em cima de um velho relógio –, só pode ser Plumalume!
– Turru, turru! — concordou a coruja, espichando a cabeça para fora
da asa e abrindo um olho. – Trouxe uma mensagem para o príncipe. Os
esquilos nos levaram a grande notícia. Mensagem para o príncipe. Ele já
partiu. Vocês também devem partir. Bom dia... – e a cabeça da coruja
desapareceu.
Como, pelo jeito, não seria possível arrancar qualquer informação da
coruja, Jill levantou-se e começou a procurar um modo de lavar o rosto e
comer alguma coisa. Quase no mesmo instante um pequeno fauno entrou
trotando na caverna, fazendo clique-claque com seus cascos de bode no
chão de pedra.