Page 644 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Jill correu para o local e não sabia se chorava ou se ria ao dar com a
cara de Eustáquio, muito pálida e suja; com a mão direita, ele brandia a
espada, ameaçando quem tentasse aproximar-se.
E claro: ele experimentara nos últimos minutos sensações bem
diferentes. Ouvira o grito que antecedeu o desaparecimento da menina.
Pensou, com o príncipe e Brejeiro, que ela só podia ter sido agarrada por
inimigos. Lá embaixo não podia saber que a pálida luz azulada era o luar.
Achou que o buraco dava passagem a uma outra gruta, iluminada por uma
fosforescência fantasmagórica e repleta sabe-se lá de que criaturas
maléficas do Submundo.
Assim, quando colocou a cabeça de fora, ajudado por Brejeiro, e
brandiu a espada, estava cometendo um ato de bravura. Os outros também
o teriam feito, caso coubessem na abertura.
– Pare com isso, Eustáquio – gritou Jill. – São amigos, não está
vendo? Estamos em Nárnia. Tudo bem!
Só então ele percebeu o que se passava e pediu desculpas aos anões.
– Não há de quê! – responderam os anões, estendendo as mãozinhas
cabeludas para ajudá-lo.
Então Jill enfiou a cabeça na pequena abertura e gritou as boas-novas
para os prisioneiros. Quando retirava a cabeça, ouviu Brejeiro resmungar:
– Coitada da Jill! Foi demais para ela: está começando a ver coisas.
Jill e Eustáquio deram-se as mãos, as duas, e respiraram
profundamente o ar livre da meia-noite. Um manto foi colocado sobre
Eustáquio e bebidas quentes foram trazidas. Os anões quase já haviam
retirado a neve e o capim que rodeavam o buraco: picaretas e pás dançavam
agora no chão como os pés de faunos e dríades. Dez minutos apenas! Mas
para Jill e Eustáquio já era como se os perigos passados nas trevas do
labirinto fossem um sonho. Lá fora, no frio, com a lua e as estrelas no alto
(as estrelas de Nárnia, mais próximas do que as estrelas em nosso mundo,
parecem maiores), e rodeados de tantas carinhas alegres, era difícil
acreditar no Submundo.
Antes que tivessem acabado de beber, umas dez toupeiras, recém-
acordadas e não muito satisfeitas, vinham chegando. Logo que souberam
do que se tratava, mudaram de disposição. Até os faunos ajudaram,
carregando a terra em carrinhos. Os esquilos pulavam e dançavam com
grande animação. Ursos e corujas limitavam-se a dar conselhos e a
perguntar se as crianças não gostariam de comer alguma coisa no calor da
gruta. Mas os dois faziam questão de esperar os amigos.