Page 639 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 639

– Bem, não se pode esperar que elas durem a vida inteira – replicou o
                  paulama. – Mas não se deixem abater por isso. Estou também de olho na
                  água, e creio que ela não está subindo tanto quanto antes.

                         – Grande consolo, meu amigo – disse o príncipe –, se a gente não
                  achar  a  saída.  Peço  perdão  a  todos.  A  culpa  é  minha;  por  presunção  e
                  romantismo atrasei a viagem. Vamos em frente.

                         Durante  algum  tempo,  Jill  ora  admitiu  que  Brejeiro  pudesse  estar
                  certo em relação às lâmpadas, ora que fosse mera imaginação.

                         O  teto  do  Mundo  de  Cima  estava  tão  próximo  que,  mesmo  com
                  aquela luz mortiça, podia ser avistado. As vastas e enrugadas paredes do
                  Mundo de Cima já eram visíveis. A estrada os conduzia de fato para um
                  túnel  íngreme.  Passavam  por  picaretas,  pás,  carrinhos  de  mão  e  outros
                  sinais  de  trabalhos  recentes.  Se  tivessem  a  certeza  de  estar  saindo  do
                  buraco,  tudo  isso  era  muito  animador,  mas  a  hipótese  de  seguir  por  um
                  túnel  cada  vez  mais  estreito,  mais  difícil  no  caso  de  um  retorno,  era
                  extremamente desagradável.
                         O teto já estava tão baixo que Brejeiro e o príncipe lhe batiam com a
                  cabeça.  Desceram  e  começaram  a  puxar  os  cavalos.  A  estrada  ficara
                  irregular e tinham de pisar com cuidado. Jill notou a escuridão crescente.
                  Não havia mais dúvida. Os rostos dos outros pareciam estranhos e lívidos
                  no palor esverdeado. De repente Jill deu um gritinho. Uma luz, a primeira
                  em frente, apagara-se. A de trás também. Estavam na escuridão total.

                         –  Coragem,  meus  amigos  –  ouviu-se  a  voz  do  príncipe  Rilian.  –
                  Vivos ou mortos, Aslam será nosso guia.

                         – Perfeitamente, Alteza – era a voz de – Brejeiro. E sempre se pode
                  lembrar que há uma vantagem em morrer aqui: não se gasta dinheiro com
                  enterro.

                         Jill  mordeu  a  língua.  (Quem  não  quer  mostrar  o  medo  que  está
                  sentindo, deve ficar em silêncio; é a voz que nos denuncia.)

                         Brejeiro e Eustáquio seguiram na frente de braços estendidos, com
                  receio de um encontrão indesejável; Jill e o príncipe vinham atrás, puxando
                  os cavalos.
                         Bem mais tarde ouviu-se a voz de Eustáquio:

                         – Ou os meus olhos estão ficando meio esquisitos ou estou vendo luz
                  lá em cima. Que acham?

                         Antes que alguém tivesse tempo de responder, Brejeiro bradou:

                         – Parem. Cheguei a um lugar que não vai mais para frente. E é terra,
                  não é pedra. Que estava dizendo, Eustáquio?
   634   635   636   637   638   639   640   641   642   643   644