Page 638 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A brecha agora era da largura de um riacho e logo depois da largura
                  de uma rachadura na parede. Por fim, como milhares de trens batendo em
                  milhares  de  molas,  a  boca  de  pedra  fechou-se.  O  cheiro  quente
                  desapareceu.  Estavam  sozinhos  num  Submundo  que  agora  parecia  mais
                  escuro  do  que  antes.  As  lâmpadas,  pálidas  e  lúgubres,  assinalavam  a
                  direção da estrada.

                         – Aposto dez contra um – disse Brejeiro – que já é tarde demais, mas
                  não  custa  tentar.  Aposto  também  que  essas  lâmpadas  não  vão  agüentar
                  mais do que cinco minutos.

                         Puseram os cavalos a galope e seguiram em bonito estilo pela estrada
                  em  penumbra.  Mas  o  caminho  começou  a  descer,  e  teriam  pensado  que
                  Golgo lhes ensinara errado, caso não avistassem, do outro lado do vale, a
                  fileira  de luzes  estendendo-se para  cima.  Mas no  fundo do vale  as luzes
                  brilhavam sobre a água em movimento.

                         – Rápido – bradou o príncipe.
                         Galoparam  pela  encosta.  A  maré  invadia  o  vale  aos  borbotões.  Se
                  tivessem  de  nadar,  dificilmente  os  cavalos  o  conseguiriam.  Mas  a  água
                  subira somente um meio metro, e puderam chegar salvos ao outro lado.

                         Começou aí a lenta e cansativa marcha colina acima, sem outra coisa
                  à vista a não ser as luzes que subiam até se perderem na distância. Atrás, a
                  água  se  espalhava,  transformando  em  ilhas  as  colinas  do  Submundo.  A
                  cada instante sumia mais uma lâmpada, coberta pelas águas. Em breve a
                  escuridão era total, menos na estrada que percorriam.

                         Embora  tivessem  excelentes  razões  para  galopar,  os  cavalos  não
                  agüentariam  sem  um  descanso.  Pararam.  Ouviam  no  silêncio  o  bater
                  ruidoso da água.

                         –  Acho  que  ele...  como  é  mesmo  o  nome?...  o  Pai  Tempo...  foi
                  coberto pelas águas – disse Jill. – E aqueles animais sonolentos.

                         –  Acho  que  não  –  disse  Eustáquio.  –  Não  se  lembra  de  quanto
                  tivemos  de  descer  para  chegar  ao  Mar  sem  Sol?  Acho  que  a  água  não
                  chegou à caverna do Pai Tempo.
                         – Talvez, talvez – comentou Brejeiro. – Estou mais interessado nas
                  lâmpadas. Parecem um pouco fraquinhas, não é mesmo?

                         – Sempre foram assim – disse Jill.

                         – Não, agora estão mais verdes – disse Brejeiro.

                         – Você não quer dizer que elas vão se apagar, não é? – perguntou
                  Eustáquio.
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