Page 641 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                             O DESAPARECIMENTO DE JILL






                         Os outros apenas podiam ouvir, mas não viam o esforço feito por Jill
                  para subir aos ombros do paulama:

                         – Tire o dedo do meu olho... Olhe o pé na minha boca... Aí... Agora
                  seguro suas pernas... Firme-se com as mãos na terra...

                         A sombra de Jill desenhava-se contra a luz.
                         – Como é? – gritaram todos ansiosos.

                         – É um buraco – gritou Jill. – Espere um pouco, Brejeiro: é melhor
                  eu ficar em pé nos seus ombros, em vez de sentada.

                         A figura recortou-se mais contra a luz, pondo-se de pé.
                         – Parece... – começou a dizer Jill, mas de repente ouviu-se um grito,

                  não um grito agudo, mas como se sua boca estivesse sendo abafada. Depois
                  ela começou a gritar alto, mas não conseguiam entender o que dizia. O foco
                  de luz por um segundo sumiu; ouviram ao mesmo tempo um ruído de coisa
                  arrastada e a voz do paulama:
                         – Depressa! Agarrem as pernas dela! Alguém está puxando Jill para
                  cima! Já! Não, aqui! É tarde demais!

                         A abertura ficou novamente clara. Jill sumira.

                         – Jill! Jill! – berraram sem resposta.

                         –  Que  droga!  Por  que  você  não  agarrou  os  pés  dela?  –  perguntou
                  Eustáquio.
                         –  Não  sei  –  gemeu  Brejeiro.  –  Já  nasci  fracassado.  É  o  destino.
                  Estava escrito que eu seria a causa da morte de Jill, como estava escrito que
                  eu tinha de comer carne de Cervo Falante. Minha culpa, minha culpa!

                         – Não poderia ter acontecido nada mais triste e vergonhoso – disse o
                  príncipe. – Entregamos uma valente senhorita às mãos do inimigo, e aqui
                  ficamos nós em segurança.

                         –  Será  que  eu  consigo  passar  por  aquele  buraco?  –  perguntou
                  Eustáquio.

                         Havia sucedido a Jill o seguinte: assim que pôs a cabeça para fora,
                  percebeu que estava olhando como se fosse do alto de uma janela, e não
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