Page 634 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                              O FUNDO DO MUNDO






                         – Meu nome é Golgo – disse o gnomo. – Vou dizer tudo o que sei.
                  Há cerca de uma hora, estávamos todos indo para o trabalho – o trabalho
                  dela, quero dizer – quietos e tristes como sempre. De súbito aconteceu um
                  grande estrondo. E cada um de nós pensou: “Ei, o que é isso? Há anos e
                  anos  que  não  canto,  não  danço,  nem  solto  um  buscapé!  Eu  devia  estar
                  encantado.  Ora,  não  vou  carregar  mais  este  peso,  dane-se.”  E  nós  todos
                  atiramos  no  chão  sacos,  pacotes,  ferramentas.  E  aí  todos  vimos  aquele
                  grande clarão vermelho. Todo mundo pensou: “O que será isso? Qualquer
                  coisa deve ter-se arrebentado e um belo clarão entrou aqui vindo da Terra
                  Realmente Profunda, milhares de metros lá embaixo.”

                         – Caramba! – exclamou Eustáquio. – Ainda existem outros lugares
                  embaixo deste?

                         –  Oh,  existem!  –  respondeu  Golgo.  –  Lindos  lugares;  é  o  que
                  chamamos de Bismo. Este país, o país da feiticeira, é o que nós chamamos
                  de  Terras  Rasas.  São  muito  próximas  da  superfície.  Puxa!  Horrível!  É
                  quase  como  se  a  gente  estivesse  vivendo  lá  fora.  Somos  apenas  pobres
                  gnomos  de  Bismo,  trazidos  aqui  por  força  dos  chamados  mágicos  da
                  feiticeira. Ela precisava de mão-de-obra. Tínhamos esquecido de tudo até
                  que o estrondo quebrou o encantamento. A gente não sabia mais quem era
                  e  de  onde  era.  Só  pensava  o  que  ela  punha  dentro  das  nossas  cabeças.
                  Durante  estes  anos  todos  só  tivemos  pensamentos  sombrios  e  tristes.
                  Cheguei  quase  a  esquecer  como  contar  uma  piada  ou  dançar.  Mas  no
                  instante  em  que  o  estrondo  aconteceu,  e  uma  brecha  se  abriu,  e  o  mar
                  começou  a  subir,  eu  me  lembrei  de  tudo.  É  claro  que  buscamos  logo  o
                  caminho  da  brecha  para  voltar  à  pátria.  Vocês  podem  ver  os  meus
                  companheiros  lá  em  cima  soltando  fogos  de  artifício.  Ficarei  muito
                  agradecido se me soltarem logo.
                         –  Que  coisa  maravilhosa  –  exclamou  Jill.  –  Que  bom  a  gente  ter
                  libertado também os gnomos ao decepar a cabeça da serpente. Que bom
                  saber que eles não são de fato sinistros, como o príncipe também não era...

                  bem, aquilo que ele parecia ser.
                         – Tudo muito certinho, Jill – disse, cauteloso, Brejeiro. – Mas para
                  mim estes gnomos não estão apenas fugindo. Parecem mais uma expedição
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