Page 632 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Se  acontecer  isso,  minha  dama,  morreremos  em  combate  para
                  protegê-la; encomende-se pois à proteção do Leão. Agora, Brejeiro!

                         O  paulama  deslizou  para  a  sombra  como  um  gato.  Os  outros
                  continuaram. De repente, ouviram-se gritos de gelar o coração, misturados
                  à  voz  de  Brejeiro:  “Quieto!  Assim  você  acaba  se  machucando.  Puxa!
                  Parece um porco entrando na faca.”

                         – Boa caçada – exclamou o príncipe, voltando à sombra da casa. –
                  Eustáquio, por favor, segure as rédeas de Carvão.

                         Apeou.  Os  três  se  olharam  em  silêncio  quando  Brejeiro  trouxe  a
                  presa para a luz. Era um pobre gnominho com menos de um metro. Tinha
                  uma espécie de crista de galo no alto da cabeça, olhinhos rosados, a boca e
                  o queixo tão grandes que parecia um mini-hipopótamo. Se não estivessem
                  numa situação tão difícil, teriam caído na gargalhada.
                         – Bem, terrícola – disse o príncipe, mantendo a espada pertinho do
                  pescoço do prisioneiro. – Agora você vai falar como um gnomo de bem,
                  para conquistar a liberdade. Banque o patife conosco e será um terrícola
                  morto... – e voltando-se para Brejeiro: – Meu caro, como é que o gnomo
                  poderá falar se você está lhe tapando a boca?

                         – E também não poderá morder – disse Brejeiro. – Se eu tivesse a
                  mão fraca e mole que vocês humanos têm (com todo o respeito a Vossa
                  Alteza). Agora já estaria sangrando. Nem mesmo um paulama agüenta ser
                  tão mastigado.

                         – Meu velho – o Príncipe disse para o gnomo –, uma mordida e você
                  morre. Deixe que ele abra a boca, Brejeiro.

                         – Oo-ee-ee – guinchou o terrícola. – Solte-me! Solte-me! Não fui eu.
                  Não fui eu que fiz isso.

                         – Não fez o quê? – perguntou Brejeiro.
                         – O que Vossas Senhorias estão dizendo que eu fiz – respondeu a
                  criatura.

                         –  Diga-me  como  se  chama  –  disse  o  Príncipe  –  e  o  que  vocês
                  terrícolas estão tramando hoje.

                         –  Ah,  por  favor,  gentis  cavalheiros  –  choramingou  o  gnomo.  –
                  Prometam  que  não  contarão  à  reverendíssima  Rainha  nada  do  que  vou
                  contar.

                         – A reverendíssima Rainha, como você a chama – disse o Príncipe,
                  muito sério –, está morta. Fui eu que a matei.

                         –  O  quê?  –  exclamou  o  gnomo,  escancarando  sua  boca  ridícula,
                  espantado. – Morta? A feiticeira morreu? E pelas mãos de Vossa Senhoria?
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