Page 627 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O SUBMUNDO SEM RAINHA
Naquele momento, todos sentiam merecer o que Eustáquio chamou
de uma “pausa para um descanso”. A feiticeira trancara a porta, dizendo
aos terrícolas que não a perturbassem; não havia assim, por enquanto,
perigo de interrupção. O primeiro problema era naturalmente o pé
queimado de Brejeiro. Duas camisas apanhadas no quarto do príncipe,
desfeitas em tiras e untadas com manteiga e óleo de cozinha, serviram de
curativo.
Depois sentaram-se para espairecer um pouco e discutir os planos de
fuga.
Rilian explicou que havia muitas saídas para a superfície; já havia
passado por quase todas em diversas ocasiões. Mas jamais fora sozinho,
somente com a feiticeira; e sempre alcançara tais saídas depois de uma
viagem de barco através do Mar sem Sol.
O que os terrícolas diriam se ele fosse até o cais sem a feiticeira, na
companhia de três estrangeiros, e, sem mais nem menos, pedisse um barco,
ninguém podia imaginar. O mais provável é que fizessem perguntas
embaraçosas. A nova saída, destinada à invasão do Mundo de Cima, era do
lado de cá do mar, a uns poucos quilômetros. Estava quase terminada, com
pouquíssimos metros de terra a separá-la do céu aberto. Talvez até
estivesse terminada. Era possível que a feiticeira tivesse voltado para
informar-lhe isso e preparar o ataque. E, ainda que a obra não estivesse
pronta, eles próprios poderiam acabá-la em poucas horas, desde que
conseguissem atingi-la sem serem detidos... e desde que não houvesse
guardas no túnel.
– Se querem a minha opinião – começou a dizer Brejeiro,
imediatamente interrompido por Eustáquio.
– Que barulho é esse?
– É o que estou me perguntando já há algum tempo – falou Jill.
Todos de fato já estavam ouvindo o ruído, mas este começara e
aumentara tão gradativamente que não sabiam quando o perceberam.
Durante algum tempo fora apenas como o farfalhar de brisas ou como o
barulho do trânsito ao longe. Depois era como se fosse o mar se espraiando.