Page 627 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 627

13


                                                  O SUBMUNDO SEM RAINHA






                         Naquele momento, todos sentiam merecer o que Eustáquio chamou
                  de uma “pausa para um descanso”. A feiticeira trancara a porta, dizendo
                  aos  terrícolas  que  não  a  perturbassem;  não  havia  assim,  por  enquanto,
                  perigo  de  interrupção.  O  primeiro  problema  era  naturalmente  o  pé
                  queimado  de  Brejeiro.  Duas  camisas  apanhadas  no  quarto  do  príncipe,
                  desfeitas em tiras e untadas com manteiga e óleo de cozinha, serviram de
                  curativo.

                         Depois sentaram-se para espairecer um pouco e discutir os planos de
                  fuga.

                         Rilian explicou que havia muitas saídas para a superfície; já havia
                  passado  por  quase  todas  em  diversas ocasiões.  Mas  jamais  fora  sozinho,
                  somente  com  a  feiticeira;  e  sempre  alcançara  tais  saídas  depois  de  uma
                  viagem de barco através do Mar sem Sol.
                         O que os terrícolas diriam se ele fosse até o cais sem a feiticeira, na
                  companhia de três estrangeiros, e, sem mais nem menos, pedisse um barco,
                  ninguém  podia  imaginar.  O  mais  provável  é  que  fizessem  perguntas
                  embaraçosas. A nova saída, destinada à invasão do Mundo de Cima, era do
                  lado de cá do mar, a uns poucos quilômetros. Estava quase terminada, com
                  pouquíssimos  metros  de  terra  a  separá-la  do  céu  aberto.  Talvez  até
                  estivesse  terminada.  Era  possível  que  a  feiticeira  tivesse  voltado  para
                  informar-lhe  isso  e  preparar  o  ataque.  E,  ainda  que  a  obra  não  estivesse
                  pronta,  eles  próprios  poderiam  acabá-la  em  poucas  horas,  desde  que
                  conseguissem  atingi-la  sem  serem  detidos...  e  desde  que  não  houvesse
                  guardas no túnel.

                         –  Se  querem  a  minha  opinião  –  começou  a  dizer  Brejeiro,
                  imediatamente interrompido por Eustáquio.

                         – Que barulho é esse?

                         – É o que estou me perguntando já há algum tempo – falou Jill.

                         Todos  de  fato  já  estavam  ouvindo  o  ruído,  mas  este  começara  e
                  aumentara  tão  gradativamente  que  não  sabiam  quando  o  perceberam.
                  Durante algum tempo fora apenas como o farfalhar de brisas ou como o
                  barulho do trânsito ao longe. Depois era como se fosse o mar se espraiando.
   622   623   624   625   626   627   628   629   630   631   632